“Long Covid”: O que se descobriu sobre o Covid longo até agora

Muitos apresentam sintomas crônicos após adoecer de Covid-19. O chamado Covid longo poderia se tornar uma ameaça para o sistema de saúde do país? A ciência pesquisa mais a fundo o fenômeno, mas ainda enfrenta uma série de problemas.

Fatiga, falta de resistência na vida cotidiana, falta de ar, distúrbios no olfato e no paladar: muitas pessoas já passaram por uma infecção de Covid 19, mas continuam a se queixar de problemas. Alguns sintomas como a “neblina cerebral”, ou seja, uma consciência obnubilada, são difíceis de definir com precisão, mas sintomas como a depressão também podem ocorrer. Já outros sofrem com dores nas articulações e nos músculos.

A gama de enfermidades deixa claro que o corpo inteiro parece ser afetado. Mas a pesquisa está apenas no início, e as abordagens são muito diferentes. Qual é a extensão da doença? Quais são as terapias possíveis? Existem grupos de risco? 

Covid longo

“Long Covid”, em inglês, é o termo utilizado pelos especialistas para descrever os efeitos de longo prazo de uma infecção com o novo corona vírus (Sars-CoV-2). Este é o caso quando as pessoas afetadas ainda sofrem de pelo menos um sintoma que não apresentavam antes da infecção, por exemplo, fadiga, falta de ar, dores de cabeça, perda de gosto e cheiro, por pelo menos três semanas após uma infecção ou alta hospitalar.

E o que mais se pode esperar que a sociedade faça? Quais as consequências para empregadores, instituições e companhias de seguros? Uma coisa é certa, o tempo está se esgotando, tendo em vista que a doença é complexa, tão brutal quanto onerosa, e completamente nova.

Resultados distintos

Vários estudos importantes sobre o Covid longo foram realizados na Suíça até agora. As Universidades de Genebra, Lausanne e Zurique publicaram pesquisas em revistas científicas. Os principais resultados mostraram diferenças relativamente grandes na frequência de casos de pacientes de Covid longo que, após mais de meio ano, ainda sofriam sintomas.

Puhan resumiu recentemente 70 estudos de todo o mundo para o Depto. Federal de Saúde Pública (BAG, na sigla em alemão). Não foi fácil, diz ele, “porque a definição de Covid longo ainda não é uniforme e foi aferida em diferentes pontos no tempo”.

No entanto, em termos da frequência do Covid longo, ele estima que os estudos suíços se encontram na média. Ainda é muito difícil de avaliar “Quais são os efeitos médicos? Qual é o impacto na vida cotidiana e no trabalho”?

Desafio para o sistema

Mas uma conclusão já pode ser tirada: o sistema de saúde será colocado sob maior pressão pelo Covid longo. “Você tem que se preparar em termos de cuidados, talvez também de serviços sociais”. Isso significa que você tem que ficar de olho na situação e ter ofertas adequadas prontas, desde serviços gerais até consultas especializadas”, diz Puhan.

Os Hospitais Universitários de Genebra (HUG) já tratam pacientes de Covid longo desde a metade de 2020. Atualmente são 350 pacientes. Lá também trabalha Mayssam Nehme, a principal autora do estudo de Genebra que é um dos primeiros e maiores estudos sobre Covid longo na Suíça e em outros países, como aponta.

“Começamos a seguir pacientes que tinham o Covid-19 como pacientes ambulatoriais em março de 2020 porque não entendíamos o que estava acontecendo”, diz. Então eles notaram que algumas pessoas sofriam cronicamente dos sintomas da Covid-19: fadiga, falta de ar, dores de cabeça, perda do paladar e do olfato.

“Decidimos então fazer um estudo prospectivo, o que significa continuar seguindo as mesmas pessoas que estudamos em março de 2020 durante meses e até anos para ver como seus sintomas se desenvolveriam ao longo do tempo”.

Ainda não é certo se alguns dos sintomas que apareceriam em todos os estudos eram novos devidos ao Covid longo, devido a outras infecções ou ainda devido a outras causas, disse. A fim de poder tirar conclusões mais claras, um grupo de controle foi agora adicionado ao estudo de Genebra.

Qual é a situação na Suíça?

Em comparação com outros países, a Suíça está bastante desenvolvida nas pesquisas de Covid longo, diz Nehme. “Ela foi um dos primeiros países a começar com a pesquisa, juntamente com o Reino Unido e os EUA. Levamos a questão a sério desde muito cedo”. Uma limitação que os pesquisadores na Suíça têm de enfrentar é o pequeno tamanho da amostra, ela aponta.

Outra limitação na Suíça, menciona Puhan, é a dificuldade de interligar bancos de dados. Isto permitiria a pesquisa sobre quem sofre de Long Covid por mais tempo e, por exemplo, precisa repetidamente de ajuda médica após uma infecção. “Isto é possível na Dinamarca, Noruega ou Inglaterra porque estes países têm os sistemas correspondentes”.

Orçamento baixo para pesquisa

Contudo, o que Puhan lamenta particularmente é que na Suíça “não existem até agora fontes de financiamento. Ao contrário da Alemanha ou da Noruega, Inglaterra, EUA, não houve nenhum pedido de pesquisa sobre Long Covid na Suíça”.

Nos EUA, por exemplo, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) investiram mais de um milhão de dólares na pesquisa de Covid longo. Nehme espera, portanto, “que os próximos convites à apresentação de propostas para a Fundação Nacional da Ciência da Suíça (FNS) incluam esse fenômeno”.

Críticas de doentes

Na Suíça, os afetados tiveram que lutar por reconhecimento e ajuda por um longo tempo. Agora, esta situação já foi reconhecida, diz Nehme. “Há mais reconhecimento na comunidade científica, isso é óbvio. A força-tarefa científica tem falado sobre o tema publicamente, e mesmo no nível político as pessoas também começaram a falar”. Puhan também tem a impressão de que as autoridades levam o Covid longo a sério hoje.

Uma das críticas ouvidas entre as pessoas afetadas foi que a ciência se concentra demais nos números puros e menos no que ajuda aos pacientes individuais.

O SNF parece ter atendido aos apelos das pessoas afetadas. O programa “Investigator Initiated Clinical Trials” deste ano, por exemplo, inclui, pela primeira vez, pacientes nos critérios de avaliação de pedidos de financiamento. O programa visa responder perguntas médicas “que são importantes para a sociedade, mas não são uma prioridade para a indústria”, diz o site.

“Sou um forte defensor do envolvimento das pessoas afetadas na pesquisa”, responde Puhan. Em outro projeto, diz ele, foi criado em Zurique o chamado Long Covid Science Board. “Com cerca de 30 pessoas afetadas, tentamos criar uma agenda de pesquisa que realmente reflita a perspectiva das pessoas afetadas”.

Nehme explica que a pesquisa primeiramente tinha que entender a doença e determinar a porcentagem ou frequência da mesma. Depois, diz ela, vem a busca por fatores de risco.

“Mas é claro que precisamos entender o que pode ajudar”, diz ela, mencionando os primeiros resultados de sua consulta: “Sabemos que uma abordagem multidisciplinar e estruturada tem ajudado muito nossos pacientes por reconhecer e tratar todos os seus sintomas”.

SWI

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