“Situação cruel” para migrantes. Médicos Sem Fronteiras condenam bloqueio de navio em Itália

Geo Barents vai ter de ficar parado durante 60 dias, por alegadamente não ter respeitado as normas que o governo italiano impõe às organizações que resgatam migrantes no Mar Mediterrâneo

“As autoridades italianas forçam-nos a uma situação cruel, onde devemos escolher entre salvar vidas de pessoas em perigo ou proteger os nossos barcos de ficarem retidos.” É desta forma que, em declarações à TSF, Juan Matias Gil, da Médicos Sem Fronteiras (MSF), reage à sanção que as autoridades italianas aplicaram à Organização Não Governamental (ONG).

Em causa está o facto de, alegadamente, não terem cumprido a lei que foi aprovada pelo governo de Giorgia Meloni no ano passado e que impõe regras apertadas a quem ajuda os migrantes no mar mediterrâneo.

As autoridades italianas multaram a ONG em 3330 euros e bloquearam por 60 dias a embarcação Geo Barents. O caso aconteceu dia 23 de agosto. “As equipas de resgate recuperavam da água pessoas em perigo que, ao verem a guarda costeira líbia, lançaram-se à água com medo de serem presos pelas autoridades líbias e de serem lavados para esse país onde há tantas violações de direitos humanos”, explica Juan Matias Gil.

Depois do salvamento, o navio Geo Barents atracou no porto de Salerno com 191 migrantes a bordo, resgatados em várias operações.

A lei que foi aprovada no ano passado pelo governo italiano de extrema-direita indica que os navios só podem desembarcar nos portos determinados e estão proibidos de levarem a cabo mais do que uma operação de salvamento.

As autoridades italianas acusam a MSF de não ter fornecido em tempo oportuno as informações exigidas pelo Centro de Coordenação de Resgate Marítimo Italiano.

Juan Matias Gil refuta as acusações do governo italiano que são baseadas em relatos das autoridades líbias. “Estamos a falar de uma instituição líbia que está acusada pelas nações unidas de cometer graves violações dos direitos humanos, por ter cometido crimes contra a humanidade e que tem graves ligações a grupos de traficantes. Não somos nós a dizê-lo”, atira o representante da MSF.

Quanto à lei criada para regular as atividades dos navios de busca e salvamento das ONG, Juan Matias Gil não tem dúvidas em afirmar que se trata de “abuso de poder” e acrescenta: “Condenamos fortemente a obstrução à assistência humanitária de salvamento no mar.”

O bloqueio do navio durante 60 dias, alerta a MSF, põe em causa a continuidade do salvamento de migrantes no Mar Mediterrâneo. Esta é a terceira vez que o Geo Barents fica retido pelas autoridades italianas.

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