
É preciso restabelecer relações
Os mais jovens talvez não tenham esta memória, mas me lembro de que há não muito tempo, a relação entre o cidadão e a política era muito mais próxima e colaborativa. As pessoas viviam a política em seus municípios, apontavam sugestões, se envolviam de verdade no desenvolvimento da cidade. E, infelizmente, não é essa a relação que vejo entre o cidadão e a política hoje.
Observo que, de modo geral, há dois extremos mais comuns quando se fala na relação com a política: ou uma revolta, uma aversão total e incondicional, ou uma paixão cega por um dos lados, que tem gerado brigas e até estremecido amizades. Em parcelas menores, temos as pessoas completamente indiferentes ao que se discute, e aquelas que mantêm relação semelhante à que relembrei no primeiro parágrafo.
É claro que essas maneiras extremas de se relacionar com a política não surgiram do nada. Nosso país vem de três décadas de desenvolvimento, mas também de muitos escândalos, corrupção e descaso com a coisa pública. Grandes decisões e significativas ações dos homens públicos foram tomadas sem pensar no bem comum.
Há pouco tempo li uma frase que resume esse pensamento: não foram as pessoas que se afastaram da política, foi a política que se afastou das pessoas.
É nossa responsabilidade restabelecer essa relação, reatar os laços com a população. E os municípios são o início do caminho, porque aqui circulamos nas ruas, convivemos uns com os outros. Somos – prefeito, vice, secretários, vereadores – autoridades de acordo com o sistema político, mas vivemos a vida que o cidadão vive, com seus percalços e conquistas. Isso acontece em uma escala bem menor com os ocupantes de cargos eletivos em âmbito estadual e federal, que passam muito tempo fora de suas cidades e longe do cidadão que o escolheu para representar suas vontades e necessidades.
Por
isso, faço questão
de conversar com
qualquer pessoa que
me procure, seja
na Câmara de Vereadores ou na rua. Gosto de explicar
meus pontos de vista, os votos que dou no plenário, mostrar que por trás de
cada tema e de cada decisão há um estudo e uma reflexão. E mesmo que no fim a
pessoa não concorde com meu ponto de vista, o fato de ouvir e ser ouvido já me
deixa satisfeito, pois é assim que
iremos reconstruir essa
relação tão esfacelada:
olhando nos olhos
uns dos outros
e debatendo os temas, não necessariamente concordando em tudo, mas
respeitando que há opiniões diferentes.
Mas infelizmente há políticos que não veem a reconstrução dessa relação como um caminho para uma sociedade melhor. Pelo contrário: enxergam nesse distanciamento uma oportunidade de crescerem sozinhos, em minha opinião de forma muito demagoga e, diria mais, baixa. É óbvio que a população, cansada de tantos problemas, se sente “representada” quando escuta um político falando que tudo e todos estão errados.
Uma pena, mas há muitos que estão usando seus discursos para separarem mais as pessoas da política, querendo ser os porta-vozes da moralidade, mas sem agregar nada efetivamente. Só palavras. Chega a ser imoral usar o poder de comunicação que temos para crescer em cima de discórdia.
Sou um político que constrói relações, que busca reatar esses laços, mesmo que esse seja um caminho mais árduo, que não tenha discursos fáceis. E se um dia não estiver mais ocupando um cargo público, até porque ninguém é dono de nenhuma cadeira nesse meio, vou continuar participando dessa construção e incentivando as pessoas a fazerem o mesmo.
* Sergio Murilo Pereira é vereador em Itajaí, Santa Catarina Atualmente ocupa o cargo de vice-presidente da Câmara de Vereadores de Itajaí.
Crédito foto: Davi Spuldaro/CVI