PORQUE AINDA PERMANECEMOS NA PROVÍNCIA? UM CASO BRASILEIRO!

PORQUE AINDA PERMANECEMOS NA PROVÍNCIA? UM CASO BRASILEIRO!

A resposta a esta indagação, especialmente no caso brasileiro, somente pode ser respondida com Heidegger:

O estudo de cada pensamento só pode ser duro e rigoroso. O esforço da expressão linguística é como a resistência dos enormes pinheiros contra a tempestade. E o trabalho filosófico não acontece como uma ocupação isolada de um excêntrico. Ele é o centro do trabalho dos camponeses. Quando o jovem camponês, carregado com uma pilha de toras de faia, arrasta montanha acima o pesado trenó em forma de chifre para, em seguida, trazê-lo de volta por uma perigosa decida, quando o vaqueiro toca o seu rebanho para cima da ladeira com passo lento e perdido em pensamento, quando o camponês prepara incontáveis telhas de madeira para o telhado de sua sala, então, o meu trabalho é do mesmo modo. Nisto está enraizada a imediata correspondência com os camponeses.[1]

Esses grifos são essenciais para a compreensão do questionamento. Heidegger sempre defendeu que o fazer filosófico é um trabalho de resistência, rigorosamente rude, de alguém que realiza um trabalho no campo, como o agricultor que ara a sua terra. É nesse mesmo sentido que o pensamento do filósofo busca abrigo na pátria, como as grossas raízes de uma figueira que se apresentam sempre enraizadas em seu mundo. É importante dizer que recentemente o Prêmio Nobel de Literatura foi para Peter Handke, um notório extremista, heideggeriano, que apoiou o genocida Slobodan Milosevic[2]. O literato escreve em sua obra, Fantasias da repetição: “Se sentir a dor da soleira, você não é um turista; pode haver passagem”.[3] De que modo todas essas informações nos ajudam a compreender a questão que se coloca no título deste artigo? Resposta: Heidegger e Handke nunca conseguiriam aceitar um mundo diverso, hipercultural e globalizado. Heidegger e contemporaneamente Handke representam o espirito conservador que se degenerou no espírito fascista e genocida.

                                                                                                                   
[[2] Durante a guerra dos Bálcãs, de 1999, Handke ficou do lado da Sérvia, condenou a Otan por seus ataques aéreos e fez um discurso em 2006 no funeral do ex-ditador iugoslavo Slobodan Milosevic. A Sociedade para os Povos Ameaçados (GfbV) criticou severamente a decisão do Nobel: “É completamente incompreensível que o Comitê do Nobel esteja reconhecendo o apoio intelectual ao genocídio”, acusou Jasna Causevicdie, especialista da GfbV em prevenção de genocídio. Fonte: https://www.dw.com/pt-br/pr%C3%AAmio-nobel-para-peter-handke-gera-controv%C3%A9rsia/a-50803858

[3] HANDKE, P. Fantasias da repetição. Franfurt, 1983, p.13.

Dr.Wellington Amorim

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