EU SOU FREE, SEMPRE FREE, EU SOFRI DEMAIS!
A América Latina é para os fortes e o Brasil não é para iniciantes. Desde 2013 que venho acompanhando a política nacional, analiticamente, e consegui realizar, dentro do possível e diante dos diversos acontecimentos e contextos diferenciados, um acerto de aproximadamente 100%, inclusive, quando ninguém acreditava ser possível, eu afirmei que o Bolsonaro seria eleito. No entanto, errei em um ponto. Mesmo que a decisão do Toffoli fosse previsível, eu não conseguia conceber de que o STF seria capaz de promover o verdadeiro caos jurídico/político neste país. Eu pensava indignadamente:
– Eles não terão coragem para defender a tese de que os condenados no Brasil somente poderão ser presos após ter sido transitado e julgado. A quem interessaria esta revisão no entendimento da nossa CF a não ser aqueles que desejam ver notórios corruptos livres de suas condenações? Terão coragem de promover a soltura de Lula, Dirceu, Azeredo e todos os demais envolvidos na Lava-Jato depois de tudo o que aconteceu? Não creio!
Mas, sobreveio o pior. Por isso, é preciso entender como chegamos a este ponto, buscando as causas ultimas e não ficar apenas nas causas próximas. É nosso dever nos dedicar ao pensamento e a reflexão da política brasileira neste momento tão delicado. É importante constatar de que a esquerda, durante 16 anos, esgarçou nosso tecido social. Dividiu o país a partir do conceito de luta de classes! Em nome do Bem e da justiça social, colocou o negro contra o branco, o homossexual contra o heterossexual, o pobre contra o rico, e acabou com o mito de que somos uma nação pacífica e cordial (no sentido do senso comum), e mandou este recado a todas as nações estrangeiras, ou melhor, o sentimento de cordialidade que sustentava precariamente nossas relações sociais, desapareceu. Não satisfeitos, gestaram e amamentaram uma serpente provocando a mesma, até em tão esquecida no Brasil profundo: os diversos grupos de reacionários e evangélicos que estavam mumificados em seus esquifes.
No entanto, após a prisão do seu líder supremo, Lula, aqueles que defenderam o #lulalivre, acreditando que as maiores comemorações eram aquelas promovidas em seus acampamentos regados a pão e mortadela, são os verdadeiros imbecis na recente história brasileira. Quem comemora são os advogados destes ilustres meliantes que estão se refastelando com a farra dos seus milionários honorários, semelhantemente a farra dos guardanapos, evento protagonizado pelo ex-governador e miliciano Sérgio Cabral, isto acontece em seus diversos escritórios advocatícios, em um verdadeiro festival de Habeas Corpus, brindando com Moet Chandon. Eu gostaria de saber se as vítimas em Santa Maria no RS terão direito à mesma Justiça, que solta e cria as condições necessárias para a prescrição dos diversos crimes hediondos nesta nação.
E ainda, se os pais das vítimas, muitos destes que cometeram suicídio e outros que entraram em depressão profunda, terão direito à mesma justiça. Lembro que os culpados ainda não foram submetidos ao tribunal de Júri, neste trágico momento do RS. Qual o recado do STF? Resolvam a bala, aos tapas, aos chutes,ou em uma revolução civil, sangrenta, como as produzidas pelos revolucionários franceses no século XVIII, ou na queda do Romanov na Rússia, no início do século XX, inclusive com o assassinato de crianças inocentes, como Anastácia. O terreno já está preparado para este cenário, que vai sendo gestado dia após dia, e podemos ver como esta bomba de ódio está em contagem regressiva! Por exemplo, nesta semana tivemos a lamentável e repudiável atitude do Augusto Nunes, ao ser agredido verbalmente pelo Jornalista Glenn Greenwald, o mesmo revidou com agressão física. O espetáculo lamentável na Jovem Pan, ao vivo, demonstra o grau de esgarçamento do tecido social no Brasil. Todo mundo perde com isso, independente do espectro ideológico. Se pessoas públicas não conseguem utilizar argumentos e partem pra agressão verbal e física, o que esperar dos anônimos? Terão bom senso? Bons argumentos? Sou pessimista. Um facão foi o melhor argumento utilizado em Ruanda em 1994.
Sempre
precisei de um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto
E destes dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos
Esse é
o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres, nós não estamos
Vamos
sair, mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa, envelhecemos dez semanas
Vamos
lá, tudo bem, eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite, ter um lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas, esperamos que um dia
Nossas vidas possam se encontrar
Quando me vi tendo
de viver
Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei, não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós
temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir
Vamos sair, mas não
temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa, envelhecemos dez semanas
Vamos lá, tudo bem,
eu só quero me divertir
Esquecer, dessa noite ter um lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas e mesmo assim
Não tenho pena de ninguém[1]
O que nos diferencia dos animais é nosso senso de justiça buscando constantemente mediar nossos conflitos pelas vias institucionais. A isto chamamos de civilização. A terra não é a justa, mas os dispositivos civilizacionais deveriam buscar se distanciar da terra, a nossa primeira natureza, de produzir uma segunda natureza, que é capaz através de suas práticas construir a justiça social. Mas quando a justiça falha ou é omissa, como será a atitude da sociedade civil? Os Romanov e o Rei Luis, na França, talvez tenham a resposta em seu descanso eterno.
Prof. Dr.
Wellington Lima Amorim