Masculinidade no leito de Procusto
Procusto é um personagem da mitologia grega. Os viajantes que iam de Mégara a Atenas eram forçados a se deitar em seu leito de ferro. Se fossem menores, Procusto esticava suas pernas. Se fossem maiores, eram esquartejados para se ajustar ao tamanho do leito. O nome Procusto significa “o esticador”, em referência à punição que aplicava às suas vítimas. O domínio de Procusto findou quando Teseu decepou a cabeça e os pés, aplicando-lhe a mesma crueldade que impunha aos homens.
O leito de Procusto é a metáfora para a performance exigida aos homens pela cultura machista. Para adaptarem-se ao padrão social, muitos homens precisam amputar aspectos significativos do seu ser ou estender aspectos estranhos para corresponder às expectativas do machismo cultural.
Por exemplo: o machismo institui aos meninos que o tamanho do pênis regula a sua masculinidade; sentencia aos homens que não há espaço para demonstrar sentimentos, emoções; treina os adolescentes para que percebam que a masculinidade do homem é mensurável pelo dinheiro, pela marca do carro e pelo sucesso profissional. O leito de Procusto se faz presente nos ambientes familiares, escolares, empresariais, políticos e midiáticos.
O leito de Procusto é tóxico e compromete a complexidade do ser humano, engaiolando-o nos padrões estabelecidos pelos estereótipos da sociedade patriarcal. O leito de Procusto é a normalidade prescrita pela cultura patriarcal. “Ser ‘normal’ é alvo ideal do fracassado”, escreveu o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Performar-se aos estereótipos é, geralmente, processo torturante para o homem cujo padrão arquetípico desvia-se da subjetividade.
Educar os homens para a normalidade do machismo representa para muitos deles um pesadelo, pois a necessidade mais profunda de muitos homens é, na verdade, poder levar uma vida distante dessa normopatia.
*Jorge Miklos é sociólogo e analista junguiano. Desenvolve uma pesquisa sobre o papel da mídia na constituição da masculinidade tóxica.