Recuperado das feridas causadas por incêndios no Pantanal, onça Ousado volta a seu hábitat
Ousado, uma das onças-pintadas resgatadas nos incêndios no Pantanal brasileiro – com queimaduras de segundo grau em suas quatro patas – foi devolvido na terça-feira (20) ao seu hábitat natural depois de ser tratado em uma ONG de preservação de felinos.
Esse exemplar macho do maior felino existente no continente americano foi solto no mesmo local onde foi resgatado há mais de um mês, às margens de um rio na reserva natural Encontro das Águas (no município de Poconé, Mato Grosso).
A região tem sido brutalmente atingida desde julho pelos maiores incêndios já registrados nesse paraíso da biodiversidade, que nos últimos dias registrou as primeiras chuvas após a pior seca em quase meio século.
Um vídeo divulgado pela ONG de animais Amapara Silvestre e demais participantes da operação de soltura mostra o momento exato em que Ousado é liberado, em uma reserva com 150 onças catalogadas.
Segundos depois que a porta de sua jaula é aberta, o felino de pelagem amarela com manchas pretas põe a cabeça para fora e, após dar uma olhada nos arredores, começa a correr e desaparece por trás das árvores.
A partir de agora, os ambientalistas vão monitorar seus passos usando uma pulseira GPS.
Um final feliz para esta onça de cinco anos que conseguiu escapar das infernais chamas que produziram imagens de paisagens reduzidas a cinzas e carcaças de animais carbonizados.
“Quando achamos ele, estava com muita dor, não conseguia andar direito. Muito ruim”, contou à AFP Jorge Salomão, veterinário da Ampara Silvestre, uma das entidades responsáveis por seu resgate e retorno à natureza.
Depois do tratamento, a onça engordou e “hoje ele estava normal, ele saiu bem, correndo, subiu o barranco. Estamos bem otimistas e felizes com o resultado”, acrescentou Salomão sobre o animal.
Ousado foi recebido e conseguiu se recuperar no Instituto Nex, ONG de preservação desses animais situada a 100 quilômetros de Brasília e a 1.000 km de seu habitat natural.
Lá permaneceu por quase um mês fazendo terapia de ozônio e tratamento a laser, junto a cerca de 20 outros felinos resgatados.
Entre eles está Amanaci, uma onça que não teve a mesma sorte. Ela foi encontrada há dois meses com queimaduras de terceiro grau e está se recuperando com um tratamento com células-tronco que torna sua cura mais rápida.
Mas os especialistas do centro de tratamento não sabem se ela conseguirá voltar ao Pantanal: o fogo atrofiou seus tendões e, sem eles, ela não consegue expor as garras para escalar, caçar ou pegar uma presa.
Em 2020, as chamas devoraram 23% da parte brasileira desse bioma que se estende pelo Brasil, Paraguai e Bolívia.
Especialistas e ONGs ambientais responsabilizam os incêndios à resposta tardia do governo de Jair Bolsonaro, além do seu discurso a favor do extrativismo em unidades de conservação que, segundo eles, incentiva o desmatamento.
Foto: Uma onça-pintada machucada na reserva Encontros das Águas, na área de Porto Jofre no Pantanal.
AFP / Mauro Pimentel