O Estado não pode ser somente um arrecadador, diz Daniela Reinehr
Sem saber até quando governará Santa Catarina, Daniela Reinehr corre contra o tempo para mostrar ao catarinense que pode ser uma chefe do Executivo melhor do que foi o afastado Carlos Moisés da Silva. Para isso, foca em apresentar resultados possíveis a curto prazo.
A governadora interina diz que não há nenhum projeto parado no governo e que sua equipe está motivada. Além disso, sinalizou que haverá novas mudanças no primeiro escalão caso permaneça até o final de 2022.
Em entrevista, Daniela Reinehr falou sobre a relação conflituosa com Moisés, os projetos políticos partidários para o ano que vem, e as diferenças de opinião com as antigas gestões da Saúde e Fazenda.
Hoje tramita no Executivo um projeto que destina R$ 350 milhões em recursos estaduais para rodovias federais. Qual a avaliação sobre esse projeto? Deve sancioná-lo?
Daniela Reinehr – Esse projeto já está na Casa Civil. Politicamente é um projeto que eu defendo e nós vamos buscar todas as formas para dar fluidez à demanda da infraestrutura. Tendo infraestrutura, Santa Catarina vai muito bem. É a base do nosso desenvolvimento. A Assembleia autorizou que a gente aporte recursos para as rodovias federais. A gente está avaliando a forma como isso vai se dar, se a gente consegue uma compensação do governo federal. É um estudo que a gente está aprofundando bastante.
Outra pauta é a reforma da Previdência. Ela está parada? A senhora vai fazer essa pauta andar?
Daniela – Nada está parado. Santa Catarina precisa de fluidez. Todos os assuntos que estavam em andamento seguem em andamento. Evidentemente que o olhar sobre cada tema pode mudar. A Reforma precisa acontecer. Está sendo estudada.
Pretende entregar em breve?
Daniela – Eu preciso obedecer o trâmite que está fluindo.
Sobre a troca de secretários, na primeira vez que a senhora assumiu, o primeiro nome foi de um general do Exército na Casa Civil, assim como havia sido feito no governo federal. Agora, o primeiro nome foi uma deputada federal para a Saúde, se aproximando da política. A Daniela mudou?
Daniela – Acredito que as mudanças acontecem no dia a dia. Se a gente não se adaptar… A maior dádiva da vida é essa: ir se adaptando às necessidades. A gente vive dois momentos totalmente diferentes. A primeira interinidade foi um período muito amarrado, de muito entrave. Naquele momento eu estava mais preocupada em defender o Estado, com alguém especialista na gestão pública. Foi um momento em que não conversavam com a governadora interina, seja porque a gente estava em um período pré-eleitoral, enfim, um clima político mais desgastado do que hoje. Passar por dois processos de impedimento é bastante prejudicial ao Estado. Naquele momento era muito difícil. As pessoas não vinham. Não queriam conversar. Hoje, eu vejo que um dos principais legados que eu deixei naquela interinidade foi abrir esse canal de comunicação porque o governo não comunicava. Foi um aprendizado, mas também foi um início. Neste segundo momento, ficou mais fácil, mais leve, em que pese ainda tenhamos dificuldades gigantescas. Desta vez eu pautei pela maior queixa, que era a saúde, pela própria pandemia. A gente vive um outro momento, até pelos nomes já anunciados, a gente percebe que é um momento de uma credibilidade diferente. As pessoas estão acreditando que vale a pena vir colaborar com o Estado. Naquele momento era muito fechado.
Nesse sentido, há uma liderança de governo para apresentar?
Daniela – Eu pretendo apresentar até o final dessa semana um nome.
Então já está acertado?
Daniela – Não. Estou conversando. Nós estamos conversando com todos e esperamos um pouquinho justamente para dar maior contato com o governo do Estado, até em função do clima que a gente vive no momento. A questão do impeachment, esse processo do impeachment, tem muito a se desenrolar ainda.
A senhora defende um planejamento a longo prazo, com algumas ações que só seriam tomadas caso permaneça como governadora. O que a senhora não fez agora que faria caso Moisés seja cassado?
Daniela – Existe uma análise muito profunda de tudo que acontece no Estado. Eu não consigo e até não queria fazer especulações neste momento porque qualquer troca que eu venha a fazer tem que ser muito responsável. Se eu falasse de trocas agora, tiraria até o ânimo de quem está à frente das pastas. Todas as ações que eu fiz de mudança de secretariado foi buscando incrementar, buscando melhores condições de gestão. Independente do que acontecer eu gostaria que essa construção fosse reconhecida. Todos os nomes foram muito bem recebidos e estão fazendo um bom trabalho. Todos sabem que é um governo interino, mas estão pensando no futuro do Estado. Eu tenho pedido fluidez. Vou dar um exemplo: o projeto de terminal de gás da Baía da Babitonga [São Francisco do Sul] estava parado há muito tempo e eu vi como prioridade. É um projeto que vai trazer muito benefício para Santa Catarina. Na interinidade, eu consegui fazer andar. Assim como esse, existe uma série de projetos que eu gostaria de fazer andar.
É possível ver que a senhora quer mostrar um governo diferente, mais ativo. Inclusive, quando da primeira interinidade, houve a anulação do ato de pagamento aos procuradores, que era justamente o motivo do afastamento do governador Carlos Moisés. Agora, a senhora anunciou a busca pelos R$ 33 milhões, o que motiva o afastamento de Moisés agora. Há uma tentativa de fazer um governo diferente, de se antagonizar ao governador afastado?
Daniela – Um governo diferente sim. Eu acredito numa nova forma de executar o Executivo. Eu não vejo o Estado da mesma forma como era visto anteriormente, mas de forma alguma a intenção é ser antagonista. Se houve alguma animosidade [de Moisés], aconteceu de forma unilateral. Eu nunca vi nenhum problema em relação a ele. Pelo contrário, eu sempre quis ajudar e estou disponível. Sempre trabalhei de uma forma muito proativa. Entendeu-se que não havia espaço e eu procurei o meu espaço independente da figura do governador, atendendo aos municípios, buscando recursos junto ao governo federal. Eu sempre consegui trazer para Santa Catarina aquilo que eu busquei. E esse é um foco que eu busco, essa relação com o governo federal. Fazer essa aproximação. Eu não posso considerar normal que o Estado fique de lado por questões políticas, por desagravos políticos. O foco é cuidar do Estado. A gente precisa aproveitar essa afinidade com o governo federal.
Hoje, Santa Catarina tem metade dos casos ativos de Covid em relação ao início de março. Caiu de 40 mil para 20 mil. O pior da pandemia já passou?
Daniela – Eu adoraria dizer isso e rogo muito por isso, mas a verdade é que a gente não sabe o que esperar. A gente precisa estar preparado para o que vier. A gente está numa situação de saúde pública que a gente nunca viveu. É um vírus que tem tido efeitos diferentes entre as pessoas, cada um reage de uma forma. A gente precisa conviver com esse vírus. A gente não pode de maneira nenhuma dissociar saúde com economia, com vida. E não pode ver a saúde só como Covid. Existem muitas outras áreas da saúde que precisam de atenção. O que eu pedi para a secretária Carmen Zanotto fazer é focar muito na atenção básica. Esse foi um fato determinante. A partir do momento que se deu atenção a isso ajudou a diminuir a quantidade de casos ativos, porque quando a pessoa procura o sistema de saúde já nos primeiros sintomas, recebe o tratamento. Eu tenho certeza de que é muito mais fácil de tratar. Mas ao mesmo tempo a gente precisa estruturar a saúde, com leitos, medicamentos. A gente precisa fazer uma logística eficiente para não perder uma única dose de vacina. Há uma busca ativa por quem precisa se vacina. Também um cuidado com pacientes pós-Covid para cuidar das sequelas.
A senhora disse que o dinheiro do governo do Estado não deve ficar parado, inclusive houve a troca na Secretaria da Fazenda. Onde esse dinheiro deve ser gasto?
Daniela – A lista é bastante ampla. Ao contrário do que se tentava demonstrar de que [as finanças do Estado] estavam muito bem, a nossa realidade não é exatamente essa. Santa Catarina é um Estado que flui muito bem, tem uma capacidade produtiva, e um povo trabalhador e diferenciado. Nossos empreendedores me orgulham muito. A gente tem um Estado pujante, mas isso é fruto de quem trabalha, de quem produz. O Estado é um excelente arrecadador, mas a gente não pode ser só um arrecadador, especialmente nesse momento a gente precisa prover, fomentar, incentivar o desenvolvimento econômico. A gente tem uma retomada econômica pela frente e muitos setores precisam se reinventar. A sensação que a gente tem é que não vamos voltar à normalidade, muitas coisas mudaram, a economia mudou, e a gente precisa se reinventar. Surgiram necessidades novas e o Estado precisa esta à altura dessa capacidade produtiva também. Guardar o dinheiro na poupança seria um desperdício. A gente precisa mostrar para o investidor que Santa Catarina é um bom lugar para se investir, que é um Estado bom de trabalhar e de produzir. O Estado precisa agir com auxílio emergencial, com saúde, com educação, infraestrutura, além desses aportes nas rodovias federais, a gente tem uma malha de rodovias estaduais extremamente precária. Na minha concepção, é a raiz do nosso Estado. Se a gente não conseguir fazer essa infraestrutura nas rodovias estaduais… o custo logístico é muito alto e nossas empresas ficam prejudicadas. E o turismo também: as pessoas vão escolher o Estado que tem infraestrutura, boa logística.
Sobre o futuro, a senhora espera um posicionamento do presidente Jair Bolsonaro para se filiar a um partido?
Daniela – O acompanhamento do presidente é algo normal e natural. Mas não tem um posicionamento dele ainda. O presidente tem um nome que, independente para onde ele for, ele é o Jair Bolsonaro. E a gente tem, eu especialmente, um outro horizonte. Nesse momento meu foco tem sido cuidar do Estado. O projeto político da Daniela está meio em stand by. Tenho conversado com diversos partidos, tenho recebido propostas bastante interessantes, mas não é o momento de tomar decisão. Vou esperar mais um pouco.
Tem uma mensagem para o catarinense?
Daniela – Uma coisa bem importante, que eu queria aproveitar a imprensa, que todos fizessem esse trabalho, é levar uma mensagem para as pessoas, em relação à Covid, de que realmente tomem todos os cuidados de higiene pessoal, de saúde individual e coletiva, e que previnam. E que diante dos primeiros sintomas busquem o atendimento médico imediato e que não entrem num quadro mais grave da doença.
Edição: RNC