Assédio online e ‘burnout’ estão empurrando mulheres para fora dos Parlamentos, mostra relatório

Assédio online e ‘burnout’ estão empurrando mulheres para fora dos Parlamentos, mostra relatório

Um novo relatório da Inter-Paliamentary Union (IPU) apresentado em Genebra na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher apontou o assédio online e o “http://burnout” como razões principais para mulheres deixarem a arena política. 

A organização, fundada em 1889, que reúne parlamentos de todo o mundo, constatou que a proporção global de deputadas mulheres aumentou para 26,9% em 2023, uma taxa de crescimento de apenas 0,4% em relação a 2022. 

O crescimento foi mais lento do que nos anos anteriores – as eleições de 2021 e 2020 registaram um aumento de mulheres deputadas de 0,6 pontos percentuais.

Na semana do Dia Internacional da Mulher, visão global sobre atuação na política 

O relatório da IPU baseia-se em renovações parlamentares em 66 câmaras em 52 países em 2023. O Brasil não teve eleições para o Congresso. 

Embora constatando progressos em algumas regiões, como as Américas, onde mulheres agora representam 42,5% do conjunto de parlamentares, o estudo destacou a preocupação com o afastamento delas da política. 

O relatório da IPU destaca várias líderes femininas de destaque que deixaram a atividade em 2023, muitas citando o esgotamento e o aumento do assédio online como as principais razões para a saída.

No início do ano, Jacinda Ardern deixou o cargo de Primeira-Ministra da Nova Zelândia e decidiu não se candidatar novamente. Ela agora vive nos EUA.

Alguns meses depois, Sanna Marin, a ex-primeira-ministra da Finlândia que perdeu as eleições de abril, também renunciou ao cargo de deputada e decidiu abandonar a política.

Enquanto liderava o país, ela viveu uma crise de imagem depois que fotos retratando-a em uma discoteca com amigas circularam online, provocando questionamentos sobre se o mesmo comportamento do público aconteceria se fosse um político homem.

Várias deputadas holandesas proeminentes também renunciaram, segundo a IUP. 

A organização observa que embora a violência política não seja nova, o mundo digital emergiu como uma esfera adicional para atacar as mulheres na política, com várias delas sendo alvo de ataques em diferentes partes do mundo em 2023.

O levantamento citou três exemplos: 

  • Na Polônia, fotos falsas mostrando uma candidata aparentemente beijando um homem foram divulgadas antes das eleições.
  • Na Tailândia, um candidato do sexo masculino produziu uma foto misturando o rosto de uma candidata e o corpo de uma modelo nua com a intenção de prejudicar a sua popularidade
  • Na Libéria, uma fotografia que mostrava uma candidata fumando um charuto circulou online com a intenção de questionar a sua credibilidade, com o seu oponente a perguntar se esta era a pessoa que os eleitores gostariam que os seus filhos seguissem.

No entanto, o relatório destaca que alguns parlamentos estão a tomando medidas para tornar os parlamentos espaços mais seguros, incluindo Austrália, Benim, Islândia, Irlanda e Tailândia.

Mídia e tecnologia e as mulheres na política 

Martin Chungong, Secretário Geral da UIP, reconheceu avanços históricos para mulheres no parlamento, mas salientou as “tendências preocupantes” observadas no relatório deste ano relacionadas ao papel das mídias e da tecnologia: 

“Nossos dados mostram que as mulheres suportam o peso do ódio no espaço político, e essa tendência parece ser exacerbada com o surgimento da inteligência artificial.

Devemos estar vigilantes e apoiar os parlamentos à medida que eles intensificam e implementam medidas para se tornarem espaços seguros para mulheres e homens.”

As questões de gênero também foram apontadas como preocupantes para as mulheres parlamentares, com reação negativa a propostas envolvendo direitos femininos em vários países.  

Veja os destaques do relatório: 

  • Nas Américas, as mulheres representaram 42,5% de todos os deputados eleitos ou nomeados em câmaras renovadas em 2023, a percentagem regional mais elevada. A região mantém assim a sua posição de longa data como a região com a maior representação de mulheres no mundo, com 35,1%.
  • Globalmente, a percentagem de mulheres presidentes de parlamento aumentou para 23,8% (um aumento de 1,1 pontos percentuais). O Camboja e a Costa do Marfim elegeram mulheres como presidentes pela primeira vez.
  • As cotas bem concebidas e implementadas continuam a ser um fator significativo no aumento da representação das mulheres. As 43 câmaras que tinham alguma forma de cotas elegeram, em média, 28,8% de mulheres deputadas, contra 23,2% nos países sem elas.
  • A África Subsaariana registou o maior avanço entre todas as regiões, com um aumento de 3,9 pontos percentuais nas eleições de 2023 em comparação com votações anteriores nos mesmos países. Os maiores ganhos registaram-se no Benim, Essuatíni e Serra Leoa, possibilitados por políticas de cota.
  • Ruanda continua a liderar o ranking mundial da UIP, com as mulheres representando 61,3% dos assentos na Câmara dos Deputados, seguida por Cuba e Nicarágua com 55,7% e 53,9%, respectivamente, enquanto Andorra, México e Emirados Árabes Unidos têm paridade.

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