
Campo Magnético está alterado, pode atingir aviação?
O número de sinistros aéreos nos últimos dois meses fechados – dezembro de 2024 a janeiro de 2025 – chegou a 41, sendo 11 fatais, que provocaram a morte de 24 pessoas.

Imagem: Reprodução/Nasa
Recentemente, o crescimento e divisão de uma região anômala no campo magnético do planeta Terra em uma região situada sobre o Brasil deixou os cientistas em alerta. Denominada Amas (Anomalia Magnética do Atlântico Sul), ela se estende das regiões Sul e Sudeste do Brasil até o continente africano.
Essa anomalia é observada de perto justamente por ser uma região onde a intensidade do campo magnético está ficando menor. Como isso pode afetar a aviação?
Aviões usam bússolas até hoje
Os aviões mais modernos e quase todos usados na aviação comercial utilizam bússolas, que se orientam pelo magnetismo da Terra. Na verdade, esse dispositivo é usado como alternativa caso o sistema de navegação por GPS (Sistema de Posicionamento Global).
Ainda, próximo ao pouso, ao voar manualmente, ou seja, sem o auxílio de instrumentos, os pilotos devem apontar o nariz do avião para uma direção magnética específica para se manterem alinhados com a pista. Por isso esse instrumento ainda é tão importante para as aeronaves.

Imagem: Airbus
Aviões podem ser afetados?
De acordo com Daniele Brandt, professora do IAG-USP (Instituto de Geofísica, Astronomia e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo), essa anomalia não coloca os voos em risco. Ocorre que o campo magnético tem três dimensões: inclinação, declinação e intensidade.
A inclinação pode ser para cima ou para baixo em relação ao solo. A intensidade é o quão forte ou fraco esse fenômeno se manifesta, e é justamente nesse aspecto que a anomalia está.
Daniele esclarece que o campo magnético da Terra não se manifesta de maneira uniforme. “A Amas diz respeito a uma região na superfície do nosso planeta onde observamos a intensidade do campo geomagnético mais fraca do que o esperado por um campo dipolar”, diz a especialista.
Isso é esperado, já que o magnetismo do planeta muda constantemente. O núcleo do planeta é formado por metais, principalmente ferro e níquel em altas pressão e temperatura, segundo Daniele.
“O campo magnético da Terra não é estático, ele varia com o passar dos anos. Isso porque o campo é gerado nas profundezas do nosso planeta e a fonte que o gera é um material metálico em estado líquido que compõe o núcleo externo e está em constante movimento”, diz a professora da USP. Essa movimentação ocorre, principalmente, pelas diferenças de temperatura e composição entre a base e o topo do núcleo externo (movimento de convecção) e pela rotação do planeta.
“Com o passar dos anos, o campo geomagnético vai mudando, os polos geomagnéticos vão se deslocando, assim como a declinação, a inclinação e a intensidade em um determinado local também vão sendo alteradas no tempo”, diz Daniele.
Declinação: Bússola não aponta para o norte real

Imagem: NOAA/NCEI
A bússola aponta para aquele conhecido como norte magnético, que não é o mesmo que encontramos no mapa. Ele não é fixo, e se desloca com o passar do tempo, já que sua origem se dá pelo movimento da porção líquida do núcleo da Terra.
O que consideramos como polo norte no mapa não é para onde as bússolas apontam, na verdade. O norte magnético fica mais ao lado, perto do Canadá e da Groenlândia.
“A direção apontada pela bússola magnética forma um ângulo com o norte geográfico, este ângulo é chamado de declinação magnética”, diz Daniele Brandt.
A diferença entre os dois nortes, o magnético e o verdadeiro, é chamada de declinação. Ela varia conforme a localização no planeta, e os pilotos usam ela para corrigir suas rotas em voo eventualmente.
O que a anomalia irá afetar de fato?
Segundo a professora da USP, o campo geomagnético serve como um escudo que nos protege dos ventos solares (radiação e partículas emitidas pelo Sol). “Entretanto, para nós, que vivemos na superfície da Terra, e para os aviões, que sobrevoam a altitudes menores que 12 km, ainda estamos protegidos dos ventos solares – mesmo vivendo aqui na região da anomalia”, diz Daniele.
“Acabam sendo afetados pela anomalia os satélites que orbitam a mais de 400 km de altitude, altura em que o campo magnético se torna ainda mais fraco. Quando um satélite passa pela região da anomalia, ele pode apresentar falhas ou é desligado temporariamente para evitar danos, a depender da atividade solar também”, diz Daniele.
Quando o magnetismo afeta a aviação?
Segundo Annibal Hetem, professor do curso de engenharia aeroespacial da UFABC (Universidade Federal do ABC), primordialmente, a aviação é afetada quando há mudança na declinação magnética. “Alterações na inclinação e na intensidade (como é o caso da Amas) não são tão relevantes para os voos”, diz o professor.
“Essa anomalia dificilmente poderá afetar os voos e transportes via navegação, pois, nos dias de hoje, utilizamos os sistemas GPS. Antigamente, no tempo da navegação via bússolas, esse fenômeno iria afetar a precisão dos transportes. Eventualmente, algumas espécies migratórias de animais podem ser afetadas, principalmente aquelas que utilizam o campo magnético como referência”, afirma Hetem.
Ele ainda afirma que não há motivo para pânico, pois a anomalia é uma variação relativamente pequena no campo total. “Os aeroportos, por exemplo, não terão necessidade de mudar seus equipamentos ou sinalizações ligadas ao tema”, diz o professor da UFABC.
Aeroporto de Guarulhos já foi afetado
A declinação magnética sofre alterações com o tempo de acordo com a região do planeta. Vale lembrar que a Anomalia Magnética do Atlântico Sul não é diretamente relacionada com a declinação, que afeta a aviação diretamente.