Amazónia e Pantanal registam “piores incêndios” em quase duas décadas: liberadas 65 megatoneladas de carbono este mês

Os dados do programa europeu Copernicus alertam que, neste mês de setembro, as emissões de carbono na América do Sul têm estado muito acima da média, o que agrava “severamente” a qualidade do ar na região

Michael Dantas/AFP

A Amazónia e o Pantanal, duas das maiores reservas da biosfera do Brasil, viveram este ano os piores incêndios dos últimos 22 anos. O programa europeu Copernicus adianta que, só no Brasil, durante o mês de setembro, foram já libertadas 65 megatoneladas de carbono, o que representa mais de 35% do total das emissões desde janeiro. 

Num olhar mais geral pelo continente, o programa lembra, num comunicado divulgado esta madrugada, que as emissões de carbono, muito acima do que é normal, têm agravado “severamente” a qualidade do ar na região. 

Além do Brasil, há outros países na América do Sul que têm sido nas últimas semanas afetados por incêndios de grandes dimensões. O Copernicus destaca também o exemplo da Bolívia. Olhando para os valores totais anuais, “as emissões de carbono dos incêndios na Bolívia são já as mais elevadas”, representando, a meio de setembro, 76 megatoneladas de carbono, ultrapassando o anterior recorde anual de megatoneladas de carbono registado em 2010. 

Incêndios “fora do comum”

Em comunicado, o programa europeu afirma que os incêndios que estiveram ativos na América do Sul podem ser considerados “fora do comum”, ainda que setembro seja, por hábito, uma altura marcada por incêndios na região. O Copernicus sublinha que estes fogos foram resultado das “temperaturas elevadas”, da “seca” e da “baixa humidade do solo”, entre outros fatores.

Em declarações à TSF, Filipe Duarte Santos, professor catedrático jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, lembra que os incêndios de grandes dimensões, como os que afetaram a América do Sul, só vão agravar o efeito de estufa, que é responsável pelo aumento da temperatura do planeta. Para o também presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, os dados revelados esta madrugada são uma “má notícia”.

“Os incêndios florestais emitem gases com efeito de estufa, sobretudo dióxido de carbono, mas também outros que têm efeito de estufa, como o metano. Isso vai agravar a situação que se vive neste momento no nosso planeta, que é de acumulação de gases com efeito de estufa na atmosfera. E isso provoca uma intensificação do efeito de estufa e das alterações climáticas”, assinala o investigador.

Em Portugal, o mês de setembro também foi de recordes no que diz respeito às emissões de carbono. Na semana passada, o sistema de monitorização do programa Copernicus estimou que os incêndios florestais que atingiram as regiões Norte e Centro libertaram, em três dias, o valor mais elevado de carbono dos últimos 22 anos, se olharmos para os dados referentes aos meses de setembro.

Numa análise mais geral, Filipe Duarte Santos sublinha que já “arderam já este ano em Portugal 146.708 hectares, o que representa 1,6% da área de Portugal Continental. É uma extensão muito grande. O país que surge logo a seguir em área ardida é o Chipre”.

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