‘Espião’ americano detido na Venezuela será acusado de terrorismo
Um “espião” americano preso na semana passada na Venezuela será acusado de “terrorismo” e tráfico de armas depois de ter sido vinculado a um ataque fracassado a instalações petrolíferas, anunciou nesta segunda-feira (14) o procurador-geral do país, Tarek William Saab.
Sete venezuelanos, incluindo um militar, também serão acusados pelo suposto envolvimento na ação, que buscou “desestabilizar” o país sul-americano atacando sua indústria petrolífera e rede elétrica, acrescentou Saab.
“Todos os cidadãos venezuelanos serão acusados dos crimes de traição, terrorismo, tráfico ilícito de armas e associação, enquanto o cidadão dos Estados Unidos será acusado dos crimes de terrorismo, tráfico ilícito de armas e associação (para cometer um crime)”, disse Saab em declarações transmitidas pela televisão do governo após as prisões feitas entre sexta-feira e o fim de semana.
O procurador-geral afirmou que, com a prisão do americano identificado como Matthew Jhon Heath e seus “cúmplices” venezuelanos, “foi possível neutralizar uma ação” que tentava gerar “desestabilidade” e “atacar a indústria de petróleo e o sistema de energia nacional”.
Saab afirmou que “Heath pertencia à empresa de mercenários MVM, cumprindo missão no Iraque de 2006 a 2016 três meses por ano, onde trabalhou como operador de comunicações em uma Base Secreta da CIA”.
A captura do “espião americano” foi anunciada em 11 de setembro pelo presidente socialista Nicolás Maduro, que não relevou sua identidade naquele momento.
Maduro afirmou que a prisão de Heath foi feita perto do gigantesco centro de refino de Paranaguá (estado Falcão, noroeste), hoje praticamente paralisado, segundo sindicatos de petróleo.
Dois dias antes da prisão, as autoridades “descobriram e desmontaram um plano para gerar uma explosão” na refinaria de El Palito, a mais próxima a Caracas, localizada no estado Carabobo (centro), disse o presidente.
O Departamento de Estado dos Estados Unidos não respondeu de imediato aos pedidos da AFP de uma consulta sobre o caso.
– Militar preso –
O procurador também destacou que entre os detidos está um militar venezuelano, Darwin Urdaneta, que a ser capturado tentou “burlar” os pontos de inspeção. Ele “teve a audácia de ir fardado” para confundir os controles, frisou.
Ele acrescentou que Urdaneta, um sargento das Forças Armadas da Venezuela, considerado o principal apoiador do governo Maduro, viajava com Heath em um veículo onde foram encontrados um lançador de granadas, uma submetralhadora e partes de um “suposto material explosivo”, além de dólares em dinheiro.
As prisões coincidem com uma escassez crônica de combustível, agravada durante a pandemia de covid-19. Venezuela, o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, passou de ser exportador para importar combustível de aliados-chave como o Irã.
A produção da outrora potência de petróleo está em queda livre: de 3,2 milhões de barris por dia (bd) há pouco mais de uma década, passou para menos de 4000.000 bd na atualidade.
Especialistas atribuem o colapso às políticas fracassadas, falta de investimento e corrupção, enquanto Caracas culpa as sanções financeiras dos EUA que incluem um embargo de petróleo em virgor desde abril de 2019.
O governo venezuelano acusa com frequência o governo dos Estados Unidos de estar por trás de projetos que buscam derrubar Maduro, cujo governo a Casa Branca não reconhece.
Em agosto, os americanos Luke Alexander Denman e Airan Berry foram condenados a 20 anos de prisão na Venezuela, acusados de terrorismo por, entre outros crimes, um ataque armado fracassado ao país caribenho em maio.
Segundo Saab, de abril de 2019 até hoje, 105 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público por suposta participação em diferentes conspirações contra Maduro.
Foto: (Arquivo) O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, em coletiva de imprensa em Caracas.
AFP / Federico PARRA