EUA confirmam negociações nucleares com Coreia do Norte nos próximos dias
Os Estados Unidos confirmaram, nesta terça-feira (1º), que retomarão as negociações sobre a questão nuclear com a Coreia do Norte nos próximos dias, relançando o processo diplomático oito meses após o fracasso da cúpula de Hanói.
“Posso confirmar que as autoridades dos EUA e da RPDC (Coreia do Norte) planejam se reunir na próxima semana”, disse Morgan Ortagus, porta-voz do Departamento de Estado, sem dar detalhes.
Antes, Pyongyang havia anunciado uma reunião de trabalho sobre a questão nuclear com Washington até o final desta semana.
As duas partes concordaram em manter uma “reunião de contato preliminar” em 4 de outubro e negociações de trabalho um dia depois, afirmou a vice-ministra das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Choe Son-hui, em um comunicado divulgado pela agência oficial de notícias KCNA.
“Meu desejo é que essas reuniões de trabalho conduzam à evolução positiva das relações entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos”, afirmou a vice-ministra, sem informar o local onde as discussões devem acontecer.
As negociações entre Pyongyang e Washington estão paradas desde o fiasco da segunda cúpula, realizada em fevereiro em Hanói, entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente americano, Donald Trump.
Os dois líderes se encontraram novamente em junho, na Zona Desmilitarizada (DMZ). Esta região separa as duas Coreias desde o final da guerra (1950-53).
Neste breve encontro, ambos concordaram em retomar o diálogo sobre o programa nuclear de Pyongyang, um pouco mais de um ano após a primeira cúpula Trump-Kim em Singapura.
Até esta data, porém, as discussões não foram retomadas.
Pyongyang não escondeu sua decepção com a recusa dos Estados Unidos a cancelarem suas manobras militares com Seul.
As relações melhoraram quando o então conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton, conhecido por seu tom severo em relação à Coreia do Norte, deixou o governo.
Na questão norte-coreana, este “falcão” detestado por Pyongyang havia defendido um “modelo líbio”. Nele, em troca da suspensão das sanções, a Coreia do Norte deveria abandonar todas as suas bombas nucleares e seus mísseis.
Essa comparação com a Líbia de Muammar Khaddafi, que terminou morto em um levante apoiado por bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), provocou a fúria de Pyongyang.
O próprio Donald Trump considerou que essa comparação fez as negociações com a Coreia do Norte “recuarem seriamente”.
Especialistas disseram que a demissão de Bolton pode ter contribuído para a decisão norte-coreana de dialogar.
Na sexta-feira, a Coreia do Norte elogiou Trump, em oposição a outros políticos de Washington “obcecados” com a exigência de uma desnuclearização norte-coreana unilateral.
“Constatei que o presidente Trump é diferente de seus antecessores em termos de senso político e de determinação”, declarou Kim Kye-gwan, consultor do Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte.
“Desejo, portanto, colocar minha esperança nas escolhas sábias e nas decisões corajosas do presidente Trump”, acrescentou.
Enquanto isso, Trump continua elogiando sua “amizade” com o líder norte-coreano, em quem diz “confiar”. Ele se baseia em um vago compromisso em favor de uma “desnuclearização completa” adotado em Singapura, mas que nunca resultou em atos concretos.
A “Casa Azul”, sede da presidência sul-coreana, recebeu positivamente o anúncio de uma retomada das negociações entre Pyongyang e Washington. A expectativa é que conduzam a “medidas práticas” que levem “a um regime de paz permanente e à desnuclearização completa da península coreana”.
O anúncio pode indicar que Pyongyang e Washington diminuíram suas diferenças, disse Koh Yu-hwan, professor de Estudos Norte-Coreanos na Universidade Dongguk, em Seul.
“O Norte pediu garantias de segurança em troca de medidas de desnuclearização e sugeriu aos Estados Unidos proporem um novo plano”, afirmou.
“Um consenso entre os dois poderia ter sido encontrado sobre esse assunto antes do anúncio desta terça-feira”, completou.
Foto: (Arquivo) As negociações entre Pyongyang e Washington estão paralisadas desde que uma segunda cúpula entre Kim Jong Un da Coreia do Norte e o presidente Donald Trump em fevereiro terminou sem acordo.
AFP/Arquivos / SAUL LOEB