
Eudes Moraes: “A Linguagem do Amor”
Sob a premissa “o amor não se define, o amor se vive”, um momento mágico me marcou profundamente.
Era um final de tarde. O sol majestosamente se preparava para recepcionar a lua, que se despontava com todo o seu esplendor. Nem o sol e a lua resistem ao toque da varinha mágica do amor. Esses corpos celestes, não apenas se entreolham com admiração e afeto, eles se enamoram e a lua reflete a luz do Sol.
Eu tinha passado um bom tempo brincando com uma bela criatura. Toda vez que eu passava a mão na sua cabeça, ela fechava os olhinhos, talvez, para curtir melhor e, de vez em quando, ela me olhava com profunda ternura. Toda vez que eu tirava a mão, a sua língua me tocava, num gesto de quero mais…
Como a oxitocina é o hormônio do amor e se expressa por diversas formas e a neurociência ensina que o amor é causado por vibrações químicas no cérebro, fica fácil compreender o porquê, ao conhecermos alguém especial, os hormônios desencadeiam respostas de recompensa, que nos fazem querer determinadas pessoas sempre e outras vezes.
Toda vez que a visito, sinto a sua alegria e, assim como a lua recebe o sol, sou muito bem recebido como se a saudade desejasse meus carinhos. Talvez, por essa razão, Platão e Aristóteles acreditavam que o amor é mais do que um sentimento, é um vínculo entre seres que se gostam e decidem ficar próximos.
O tempo voou e chegou a hora de partir.
Despedi-me. Já estava aguardando o elevador, quando a doce criatura também quis descer comigo. Todos felizes. Saímos do prédio. A rua estava quase deserta. Fui em direção do carro. Antes de abrir a porta, acariciei-a como forma de despedida. Balbuciei palavras de carinho, que certamente foram compreendidas pelos toques de minhas mãos.
Abri a porta do carro e entrei.
Seu olhar era de ternura, por entre meneios lentos de cabeça, que me esquadrinhavam por todos os ângulos. Não resisti à tentação e abri novamente a porta do carro. Ia descer, quando algo imprevisto aconteceu. Como se fosse — ao estilo de The Flash — a criatura meiga e dócil se soltou da coleira de sua dona e, num impulso indescritível, se jogou no espaço vazio na minha direção. Por estar dentro do carro, não pude segurá-la no ar. Ela caiu no meu colo dentro do carro. O voo foi espetacular! O cachorrinho queria ir embora comigo. Acolhi-o carinhosamente.
Como ele não me pertencia, tive que recolocá-lo no chão. Dei partida no carro e ele chorava a dor da saudade.
No contexto do amor, não sei explicar esse sentimento animal. O que sei é que o cachorro expressou amor com uma ternura que muitas vezes falta nas pessoas. Jamais me esquecerei que o amor se vive, não se define, e que é a reciprocidade dos gestos carinhosos que dispendemos.
Eudes Moraes é da Academia de Letras de Balneário Camboriú e da Academia de Cultura de Curitiba.