“Governos vão acabar socializando” perdas, se a crise se agravar, diz economista do BM

“Governos vão acabar socializando” perdas, se a crise se agravar, diz economista do BM

A crise global causada pelo coronavírus e a recessão que provocará na América Latina são “sem precedentes” e os governos terão que tomar “medidas extraordinárias”, como recapitalizar bancos e empresas estratégicas e socializar perdas, disse à AFP o chefe do Banco Mundial (BM) para a região.

“Se as crises forem tão sérias quanto pensamos que possam ser, os governos terão que tomar muitas vezes medidas extraordinárias, se os bancos tiverem de ser recapitalizados, se as empresas estratégicas tiverem ue ser apoiadas, se as dívidas não pagas tiverem que ser assumidas, o governo terá que socializar muitas perdas”, explicou em entrevista à AFP Martín Rama, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe.

A entrevista foi realizada em Washington por videoconferência, devido distanciamento social, uma das medidas recomendadas para interromper a pandemia do COVID-19.

Com a desaceleração da atividade devido à pandemia que teve um epicentro na China e causou estragos na economia mundial, o Banco Mundial prevê que o PIB da América Latina e do Caribe (excluindo a Venezuela) contrairá 4,6% em 2020.

Essa situação na América Latina adquire características específicas devido à informalidade do emprego, entre outros fatores.

– “Muita incerteza” –

Rama acredita que o buraco provavelmente será “mais profundo do que a crise financeira global de mais de uma década atrás” em 2008.

“E não é apenas a profundidade que choca, é a natureza da crise”, disse o economista uruguaio, explicando que na América Latina havia uma crise antes porque a demanda mundial caiu ou porque as condições financeiras internacionais mudaram.

“Nesse caso, também há uma crise de oferta quando as pessoas não podem trabalhar. Temos demanda, finanças e oferta, tudo ao mesmo tempo”, explicou ele, para limitar que isso dificulta a previsão do grau de gravidade do choque.

“Também há incerteza, porque não sabemos como será a saída dos períodos de quarentena”, disse o especialista.

– “Transparência”-

Em uma região com recursos limitados, Rama enfatizou a importância da “transparência”.

“É essencial manter a transparência. O profissionalismo. Sempre na economia há uma busca por rentismos, há favoritismos que devem ser evitados, para que os governos possam decidir rapidamente, para que a população possa confiar de que era isso que deveria ser feito”, explicou.

Em uma região em que pequenas e médias empresas são uma fonte muito importante de emprego, Rama afirmou que uma fórmula para ajuda econômica pode ser “ter linhas de crédito e incentivar bancos e intermediários financeiros a fornecer a liquidez necessária” às empresas e negócios.

“Deixe os bancos realizarem de maneira descentralizada a avaliação de quais empresas realmente têm capacidade de sobreviver e, portanto, devem ser apoiadas”, afirmou.

Para Rama, a crise afetará as diferentes regiões da América Latina de uma maneira muito diferente, dependendo da recuperação nos principais centros econômicos, uma vez que existem países na região que dependem muito mais do G7 das economias industrializadas e de outros países da China, onde a pandemia se originou.

– Novas tecnologias para medir a crise –

Rama disse à AFP que para ter um diagnóstico rápido da atividade econômica, eles estão usando novas tecnologias, em vez de esperar por dados mais tradicionais, como pesquisas ou relatórios de contas nacionais.

Para o relatório divulgado neste domingo, eles contaram com informações de satélite da Agência Espacial Europeia e da Nasa sobre emissões de dióxido de nitrogênio, intimamente associadas à combustão de veículos e à atividade industrial.

Também foram usados dados de diferentes aplicativos que são indicadores da atividade e mobilidade das pessoas.

“Existem respostas de muitos lados, mas não sei se em toda a América Latina temos uma resposta estratégica, claramente comunicada e coerente que, de alguma forma, serve como uma espécie de pacto social sobre como responder a uma crise”, concluiu.

Foto: (Arquivo) Economista-chefe do Banco Mundial para América Latina Martín Rama, em Washington DC.
AFP/Arquivos / Eric BARADAT

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