“Não há lugares seguros.” Única certeza para habitantes de Gaza “parece ser a morte”

As ordens para as pessoas se deslocarem são constantes e muitas famílias optam por já não se mudarem, uma vez que não existem lugares seguros

“Não há lugares seguros” em Gaza e a única certeza para os 2,4 milhões de habitantes do enclave palestiniano “parece ser a morte”. O diagnóstico é feito pela porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos. Em entrevista à agência France-Press, Louise Wateridge lamenta as ordens constantes para as pessoas se deslocarem e admite que muitas famílias optam por já não se mudarem, uma vez que não existem lugares seguros.

“Não há lugares seguros, isso é absolutamente lamentável”, afirmou a porta-voz, que está há duas semanas em Gaza. “Temos a impressão de que as pessoas estão à espera da morte, que parece ser a única certeza”, disse Wateridge, sublinhando que “mesmo as escolas já não são um lugar seguro”.

Para fugirem aos bombardeamentos, quase todos os palestinianos da Faixa de Gaza já tiveram de se deslocar pelo menos uma vez desde o dia 7 de outubro, seguindo as ordens israelitas de retirada. Muitos encontraram refúgio em escolas, que se tornaram acampamentos improvisados.

A responsável da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos afirma que “as ordens para os habitantes se deslocarem são permanentes”. “As pessoas dizem-me que têm a impressão que andam em círculos, muitos referem que não vão mudar-se mais.” 

Segundo a AFP, que ouviu relatos de moradores da Faixa de Gaza, há pessoas completamente exaustas, que já não querem deslocar-se mais com a família e os poucos pertences que lhes restam. Outras denunciam a falta de clareza dos mapas israelitas, que contêm ordens de retirada, lançados por aviões ou acessíveis pela internet, num território sem eletricidade há mais de dez meses e onde as redes de telecomunicações apresentam falhas.

Louise Wateridge destaca ainda que todo o tipo de insetos, como ratos, escorpiões e baratas, transportam doenças de um abrigo para o outro. O vírus da poliomielite ressurgiu no território, 25 anos após ser erradicado. A ONU aguarda a autorização de Israel “para ir de tenda em tenda garantir que as crianças com menos de 10 anos são vacinadas”. A porta-voz fala ainda sobre “os desafios terríveis e sem precedentes em termos de propagação de doenças e higiene, devido, em parte, ao cerco imposto por Israel”. Ainda assim, os habitantes da Faixa de Gaza “continuam à espera de um cessar-fogo” e têm conhecimento “das negociações e dos acontecimentos atuais”.

Os Estados Unidos, o Catar, o Egito e Israel realizam esta semana novas negociações para tentar construir pontes e colmatar lacunas que têm dificultado o fim da guerra na Faixa de Gaza. De acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, mais de 40 mil pessoas já morreram desde 7 de outubro. 

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