PF investiga morte de líder indígena e invasão de aldeia no Amapá
A Polícia Federal investiga denúncias do assassinato de um líder indígena e a invasão de uma aldeia remota por garimpeiros fortemente armados no Amapá, informaram autoridades e líderes da tribo wajãpi.
Os povos indígenas brasileiros têm enfrentado há tempos a pressão de garimpeiros, pecuaristas e madeireiros, mas ativistas afirmam que as ameaças se intensificaram sob a gestão do presidente Jair Bolsonaro, que assumiu o poder em janeiro e prometeu abrir a floresta amazônica à exploração de minério.
O atual episódio de violência contra os wajãpi, que vivem no estado do Amapá, começou na semana passada, quando foi reportada a morte de um cacique, informou em um comunicado o Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina.
O corpo de Emyra Wajãpi foi encontrado na terça-feira passada em um rio, segundo a organização. Embora nenhum dos wajãpi tenha presenciado a sua morte, eles afirmam ter detectado “rastros e outros sinais de que a morte foi causada por pessoas não indígenas” e de “forma violenta”.
Logo, na sexta-feira, cerca de 50 garimpeiros invadiram a aldeia wajãpi Yvytotõ, forçando os indígenas a fugirem para uma aldeia vizinha, a Mariry, segundo veículos de comunicação locais.
Quando começou a transcender a informação sobre o ataque, no sábado, uma equipe de investigadores da Polícia Federal partiu para a região, situada a quase 300 km da capital, Macapá, informou o Ministério Público Federal (MPF) do Amapá. Os agentes chegaram a Yvytotõ neste domingo.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que seus membros também se encontram no local, supervisionando o trabalho policial.
“As autoridades policiais informaram que não é descartada nenhuma hipótese para o homicídio, tampouco se pode afirmar a autoria do crime neste momento”, informou o Ministério Público Federal (MPF).
“A suposta presença de garimpeiros e de outros grupos na região está sendo investigada”, acrescentou.
– ‘Psicose ambiental’ –
Os wajãpi vivem nas profundezas da floresta amazônica, em uma região rica em ouro, magnésio, ferro e cobre, onde as comunicações são difíceis, segundo a Polícia.
O conselho Aspina assegura que alguns guerreiros wajãpi se deslocaram para um local próximo à aldeia ocupada por mineiros, despertando o temor de ocorrer um banho de sangue.
“A situação é URGENTE!”, alertou Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em sua página no Facebook.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) emitiu um comunicado no qual exige ao poder público proteger a terra e a integridade dos wajãpi, e, após a investigação, que os responsáveis sejam punidos.
A terra indígena Wajãpi é uma das centenas de territórios indígenas demarcados no Brasil desde os anos 1980 para o uso exclusivo de seus habitantes, que têm direito a ocupar suas terras ancestrais garantido pela Constituição. O acesso de terceiros é regulado estritamente.
Desde que assumiu o poder, em janeiro, Bolsonaro é acusado de atentar contra a Amazônia e os povos indígenas para beneficiar as indústrias mineradora, agropecuária e madeireira, que o apoiaram durante sua campanha.
Bolsonaro chegou a questionar recentemente os dados oficiais sobre o desmatamento – que apontaram um aumento de 88% em junho, em relação com o mesmo mês do ano passado – e já disse que considera existir uma “psicose ambiental” em torno da proteção da Amazônia.
“Eu entendo a necessidade de preservar, mas a psicose ambiental deixou de existir comigo”, afirmou recentemente em um café-da-manhã com correspondentes estrangeiros.
O povo Wajãpi habita um território rico em minério no coração da Amazônia, cobiçado por garimpeiros.
AFP/Arquivos / Apu Gomes