Reino Unido suspende parcialmente exportação de armas para Israel
Em causa está o risco de as armas serem utilizadas para “cometer ou facilitar uma violação grave do direito humanitário internacional” em Gaza
O Reino Unido vai impor uma proibição parcial da exportação de armas para Israel devido ao risco de violação do direito humanitário, anunciou esta segunda-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros, David Lammy.
Numa intervenção na Câmara dos Comuns, Lammy afirmou ter recebido um parecer jurídico apontando para um “risco claro” de que algumas exportações do Reino Unido para Israel possam ser utilizadas para “cometer ou facilitar uma violação grave do direito humanitário internacional” em Gaza.
Cerca de 30 de um total de 350 licenças de exportação serão agora suspensas, incluindo componentes importantes para aviões militares como helicópteros e ‘drones’, indicou.
O ministro salientou que a decisão “não se trata de um embargo de armas”, mas uma medida que visa equipamento militar que pode ser utilizado no atual conflito em Gaza.
“As restantes licenças [de exportação] continuarão a ser concedidas. A ação que estamos a tomar não terá um impacto material na segurança de Israel”, salientou. Lammy sublinhou que “não existe qualquer equivalência entre os terroristas do Hamas e o governo democrático de Israel, ou mesmo o Irão e os seus parceiros e representantes”.
“Não tomamos esta decisão de ânimo leve, mas registamos que, em ocasiões anteriores, ministros de todos os quadrantes da Câmara – trabalhistas, conservadores e liberais-democratas – optaram por não autorizar exportações para Israel”, recordou.
O Reino Unido tem como posição a negociação de um cessar-fogo imediato e de uma solução que resulte na criação de um Estado palestiniano em coexistência com o Estado de Israel.
Israel iniciou uma intervenção militar no ano passado na Faixa de Gaza para “erradicar” o Hamas depois de o grupo islamita ter realizado a 07 de outubro em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1.194 pessoas, na maioria civis, e fazendo 251 reféns.
O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), no poder em Gaza desde 2007, é classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel.
A guerra, que hoje entrou no 332.º dia e ameaça alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 40.786 mortos (quase 2% da população) e 94.224 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros após mais de dez meses e meio de guerra, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
O conflito causou também cerca de 1,9 milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer vítimas – “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.