“As pessoas nunca sonharam sair da Venezuela.” País enfrenta “crise muito forte” e é “difícil sobreviver”

Em declarações à TSF, Rui Carloto confessa-se incapaz de deixar o Estado venezuelano, até porque isso implicaria “abandonar 54 anos vida”

No arranque do terceiro mandato de Nicolás Maduro como Presidente da Venezuela, o retrato feito por quem lá vive é de uma “crise muito forte”, em que é “difícil sobreviver”. Quem o diz é o português Rui Carloto, que vive no país venezuelano há 54 anos.

Em declarações à TSF, o consultor imobiliário em Caracas conta que “jamais” o país viveu uma crise tão grande como aquela que enfrenta atualmente.

“Sempre fomos um país normal, em que houve sempre abundância. As pessoas nunca sonharam emigrar ou sair da Venezuela. É uma crise muito forte”, explica, acrescentando que a situação no país foi-se “complicando”.

O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tomou esta sexta-feira posse para um terceiro mandato, apesar de a oposição reivindicar vitória nas eleições presidenciais de julho e após protestos no país sul-americano e no estrangeiro contra a repressão exercida pelo seu Governo.

Rui Carloto lamenta que as políticas até agora implementadas não tenham sido “as melhores” para que a população possa manter as suas poupanças.

“A pessoa vai ao supermercado e paga muito mais aqui do que paga em Portugal. Em Portugal, eu vou com um cem euros ao supermercado e trago alguma coisa. Aqui, com 150 dólares não se traz nada do supermercado. E então quem é que pode sobreviver numa situação destas? É difícil. É muito, muito difícil”, afirma.

Ainda assim, confessa-se incapaz de “abandonar 54 anos vida”, até porque é na Venezuela que tem “propriedades” e a poupanças investidas em imóveis.

“As poupanças em dinheiro desapareceram todas. Tem de haver políticas económicas fortes para estabilizar o país”, alerta.

Enquanto empresário, reforça que o país precisa de políticas de desenvolvimento e argumenta que, a par da informação, existe também “muita desinformação”. Reconhece que, durante o dia em que Nicolás Maduro tomou posse, “nem quis estar a ouvir notícias”.

“Ouvem-se as pessoas que vão dizendo uma coisa ou dizendo outra, mas existe muito falso positivo e muita desinformação. Há laboratórios que estão a colocar informação errada a todos os níveis e não se sabe o que é certo ou o que não é”, aponta.

Rui Carloto adianta por isso que não está surpreendido com a decisão unilateral do chefe de Estado venezuelano de encerrar as fronteiras do país com o Brasil.

“É normal que as fronteiras tenham ficado todas fechadas. Até a da Colômbia ficou fechada, por agora”, defende.

Encontra ainda como possível razão para esta decisão a preocupação com a “segurança”, apesar de reconhecer que “há muitas formas de entrar” no país. “É um filtro”, conclui.

“Não sei até que ponto seja certo que Lula é uma pessoa que está a falar a verdade ou se está a fazer política, não sei. Sei que eles não vieram à tomada de posse. Não podem ficar perante o mundo como antidemocratas. Têm de mostrar ao mundo que são democráticos, se não, ficam mal. Mas é uma situação complicada. Isto é uma situação muito complicada”, considera.

A fronteira de mais de dois mil e cem quilómetros que partilha com o Brasil vai estar encerrada até segunda-feira, 13 de janeiro, segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

O principal ponto de entrada de venezuelanos no Brasil é pelo estado de Roraima.

Maduro prestou juramento de posse perante a Assembleia Nacional (parlamento) controlada pelo partido no poder, um dia depois da principal líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, ter anunciado ter sido brevemente detida pelas forças de segurança do Estado, acusação negada pelo governo.

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