Canadá: o que explica a onda de calor relacionada a dezenas de mortes súbitas no país

Dezenas de pessoas morreram no Canadá em meio a uma onda de calor sem precedentes que bateu recordes de temperatura.

A polícia de Vancouver respondeu a mais de 130 mortes súbitas desde sexta-feira (25/06). A maioria era de idosos ou pessoas com problemas de saúde pré-existentes.

O Canadá quebrou seu recorde de temperatura pelo terceiro dia consecutivo na terça-feira – 49,6°C em Lytton, na Colúmbia Britânica, província que fica na costa oeste do país.

O noroeste dos Estados Unidos também registrou temperatura recordes – e uma série de fatalidades.

O calor na região ocidental do Canadá e dos EUA foi causado por uma cúpula de ar quente de alta pressão estática que se estende da Califórnia aos territórios árticos. As temperaturas têm diminuído nas áreas costeiras, mas não há muito alívio para as regiões do interior.

Especialistas dizem que a mudança climática deve aumentar a frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor. No entanto, vincular qualquer evento único ao aquecimento global é complicado.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que a onda de calor está ligada à mudança climática em um discurso na terça-feira, quando apresentou um plano para atualizar a rede de infraestrutura do país.

Nesta quarta-feira, Biden se reunirá com governadores de Estados do oeste dos Estados Unidos e oficiais do Corpo de Bombeiros, por ocasião do início da temporada anual de incêndios florestais na América do Norte.

Antes do domingo, as temperaturas no Canadá nunca haviam passado dos 45°C.

O primeiro-ministro da Colúmbia Britânica, John Horgan, disse que a semana mais quente que a província já viveu levou a “consequências desastrosas para famílias e comunidades”.

O número de fatalidades relacionadas ao calor provavelmente deve aumentar, já que algumas regiões dizem ter respondido a incidentes de morte súbita, mas ainda precisam tabular os números.

Apenas em Vancouver, acredita-se que o calor tenha contribuído para a morte inesperada de 65 pessoas desde sexta-feira.

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“Sou policial há 15 anos e nunca tinha visto esse volume de mortes súbitas, que ocorreram em um período de tempo muito curto”, disse o sargento Steve Addison. Três ou quatro por dia é o número normal.

Ele afirmou que as pessoas chegavam às casas de parentes e encontravam eles mortos.

Dezenas de policiais foram realocados na cidade, enquanto o aumento do número de chamadas de emergência criou uma sobrecarga e esgotou a capacidade de resposta policial.

A legista-chefe da Colúmbia Britânica, Lisa Lapointe, disse que 100 mortes a mais do que o normal foram registradas no período de sexta a segunda-feira.

A pequena vila de Lytton, cerca 250 km a leste de Vancouver, registrou todos os recordes de temperatura recentes do Canadá.

A moradora Meghan Fandrich diz que tornou-se “quase impossível” sair de casa.

“Tem sido insuportável”, disse ela ao jornal Globe & Mail. “Estamos tentando ficar dentro de casa o máximo possível. Estamos acostumados com o calor, e é um calor seco, mas 30 [graus] é muito diferente de 47.”

Muitas residências na Colúmbia Britânica não têm ar condicionado, pois as temperaturas costumam ser bem mais amenas durante os meses de verão.

Um morador de Vancouver disse à agência de notícias AFP que os hotéis pareciam estar lotados, com as pessoas se aglomerando nesses locais em busca de ar condicionado. E acrescentou: “Nunca vi nada parecido. Espero que nunca mais volte a ser desse jeito”.

O serviço meteorológico do país, Environment Canada, emitiu alertas de calor para as províncias de Colúmbia Britânica e Alberta, além de áreas de Saskatchewan, Territórios do Noroeste e Manitoba.

Jodi Hughes, âncora de meteorologia da emissora Global News Calgary, disse à BBC que os bombeiros estão extremamente preocupados com a possibilidade de incêndios florestais, possivelmente provocados por chuvas de raios, que podem ocorrer conforme o padrão climático muda.

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Nos EUA, calor derrete cabos elétricos

No noroeste dos Estados Unidos, na segunda-feira (28/06), as temperaturas atingiram 46,1°C em Portland, no Oregon, e 42,2°C em Seattle, no Estado de Washington, os níveis mais altos desde que os registros tiveram início, na década de 1940, informou o Serviço Meteorológico Nacional.

Acredita-se que pelo menos uma dúzia de mortes em Washington e Oregon estejam relacionadas à onda de calor.

Um médico em um hospital de Seattle disse ao jornal Seattle Times que o número de pacientes com insolação era comparável ao início da pandemia de Covid-19.

O doutor Jeremy Hess afirmou que alguns tinham problemas renais ou cardíacos e um homem teve queimaduras de terceiro grau por andar no asfalto.

Pessoas descansam num centro de convenções refrigerado em Portland, Oregon
Em Portland, moradores buscaram abrigo em centro de refrigeração.

O morador de Seattle Mark Aldham instalou um sistema de refrigeração em seu jardim, com lanches e bebidas grátis. “Está super quente aqui. Então meu parceiro e eu montamos uma tenda para ajudar a refrescar nossa vizinhança e manter todos seguros”, disse ele à Reuters.

O calor foi intenso o suficiente para derreter cabos elétricos, interrompendo o serviço de bondes de Portland no domingo.

Uma distribuidora de energia em Spokane, Washington, passou a adotar blecautes intermitentes para lidar com a enorme demanda de energia, já que os moradores estão usando seus aparelhos de ar condicionado a toda potência.

Trabalhadores agrícolas agora têm a opção de começar seus turnos ao amanhecer e encerrar ao meio-dia. Mas os contratantes dizem que alguns continuam trabalhando independentemente do calor.

Um trabalhador foi encontrado morto no campo ao final de seu turno em uma fazenda no Oregon.

Um morador de Seattle disse à AFP que a cidade parecia um deserto: “Normalmente… 60, 70 graus [Farenheit, cerca de 15 a 20 graus Celsius] é um ótimo dia – todo mundo está fora de casa, de shorts e camisetas – mas isso aqui é… ridículo.”

A Amazon permitiu na segunda-feira que o público entrasse em áreas de sua sede em Seattle, oferecendo o espaço como um local de refrigeração. Em Portland, as pessoas também se aglomeraram em centros de resfriamento.

AFP

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