Comissão de Pesca define ações para a preservação do boto pescador de Laguna

Comissão de Pesca define ações para a preservação do boto pescador de Laguna

A Comissão de Pesca e Aquicultura da Assembleia Legislativa já definiu o conjunto de ações que pretende implementar para tentar frear o aumento da mortandade do boto pescador de Laguna, espécie que estaria sendo ameaçada pelo mal uso de redes de malha utilizadas para a pesca e pela poluição das águas costeiras do sul do estado.

O planejamento decorreu de uma audiência pública realizada pela comissão essa semana, na Câmara de Vereadores de Laguna, da qual foram colhidas sugestões de lideranças políticas locais, representantes de entidades ambientais e de colônias de pescadores.

O pedido para a realização do evento partiu do engenheiro de pesca e policial militar Evandro dos Passos Farias, integrante do Movimento Boto Vivo, diante do registro da morte de 20 botos desde 2018, e da preocupação quanto ao destino dos 53 outros que habitam a região. “O Movimento Boto Vivo foi despertado por uma ação de pessoas que amam esse bicho, após a grande mortandade que teve em 2018. Então fizemos uma reunião em janeiro deste ano e definimos algumas estratégias ligadas à prevenção, repressão, e, futuramente, para a melhora da qualidade da água do complexo lagunar.”

Além do prejuízo ambiental, disse, o desaparecimento dos botos das águas de Laguna também acarretaria consequências socioeconômicas ao município. “Na verdade não é só o boto, uma espécie, que está morrendo. Isso desencadeia outros problemas que, inclusive, vãi acabar afetando os pescadores artesanais, sem contar o turismo, a cultura, entre outras coisas que Laguna acabou desenvolvendo por causa destes animais.”

O comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar Ambiental de Santa Catarina, Tenente-Coronel Ricardo Cordeiro Comelli, afirmou que a corporação tem buscado coibir o uso de equipamentos de pesca irregulares, mas que a mortandade dos botos pode ter outras causas, que ainda precisam ser mais bem esclarecidas. “Há uma legislação que proíbe certas coisas, como redes de malhas, e temos feito operações constantemente. É claro que não temos todo o conhecimento acerca do fato, por isso agimos com precaução. Mas essa questão vai longe, pois carece de muito mais conhecimento e estamos fazendo parte deste processo.”

Durante a reunião foram frequentes os pedidos por mais participação do governo do Estado na busca de soluções para o problema, por meio da presença de mais efetivos e estrutura para Polícia Militar Ambiental e de representantes de órgãos como o Instituto do Meio Ambiente (IMA) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), além do desassoreamento do canal de Laguna. 

Em resposta, o deputado Felipe Estevão (PSL), que preside a Comissão de Pesca, afirmou que o colegiado pretende trabalhar duas frentes. Uma mais imediata, buscando levantamento de mais dados junto a especialistas em biologia marinha, e o reforço das ações de fiscalização da atividade de pesca; a outra em longo prazo, para a dragagem do canal e a despoluição do rio Tubarão, que desemboca no complexo lagunar.

Já na Assembleia Legislativa, disse, serão buscadas medidas como o aprimoramento da legislação ambiental e a destinação de verbas, via emendas parlamentares, para o município de Laguna.
“A pesca com o auxílio de golfinhos é um patrimônio que vai além de Laguna e de Santa Catarina, sendo um patrimônio de todo o nosso país. Por isso, a proposta é que esta não seja só uma audiência pública, mas um trabalho de ponta, diferenciado, que gere uma grande força tarefa que sirva como um legado para as próximas gerações. Congratulo a todos que abraçaram esta causa e que vieram estar aqui conosco”, disse o parlamentar ao final.

Já Hilário Gottselig, que na reunião representava a Secretaria da Agricultura e da Pesca, afirmou que o governo do Estado também já tem tomado providências relativas ao caso. “Tanto a secretaria quanto a Polícia Militar, concordaram que teremos que atuar em duas frentes: uma de fiscalização, principalmente entre os meses de setembro, outubro e novembro [de maior movimentação pesqueira]; e outra de orientação da comunidade, pois sem a participação ativa dela, não teremos um grande sucesso.”

Também participaram dos debates o prefeito de Laguna, Mauro Vargas Candemil; e o vice-presidente da câmara municipal de Laguna, vereador Osmar Vieira.

A pesca cooperativa
Estima-se que, além de Laguna, a pesca com o auxílio de botos ocorra somente na Mauritânia, na África.

No município catarinense a espécie presente é a Tursiops truncatus, conhecido popularmente como “golfinho nariz de garrafa”, que costuma circular entre o canal que liga a Lagoa de Santo Antônio ao mar aberto, sendo vistos também nas imediações da ponte Anita Garibaldi e do centro histórico de Laguna.
Para a captura do peixe, os pescadores preparam suas redes, colocando-se à beira do canal, a pé ou em canoas, e esperam os golfinhos conduzirem e acurralarem os cardumes.
Conforme os pesquisadores, a relação se mantém ao longo do tempo por ser benéfica também aos golfinhos, que encontram uma presa fácil nos peixes que escapam das redes dos pescadores.

FOTO: Fábio Queiroz/Agência AL – Deputado Felipe Estevão.

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