O ataque a universidade

O ataque a universidade

Para o Bolsonarismo a universidade pública é uma inimiga. É que o Bolsonarismo trava uma guerra ideológica contra o ensino público. Por isto o Bolsonarismo considera os professores e alunos como uma ameaça política. Afinal, o Ministro da Educação, Abrahan Weintraub, acusa as universidades federais de promoverem a “balbúrdia”, “bagunça e ato político ridículo”, e permitirem “gente pelada” – atos políticos de esquerda impróprios; ou seja, o Ministério da Educação é instrumentalizado pelo Bolsonarismo para revanche ideológica contra quem pensa diferente. Neste sentido, portanto, o Bolsonarismo ataca a universidade com corte de verbas.

Segundo o Ministro da Educação o corte seria apenas um “chocolatinho”. Mas, na verdade, o governo efetuou um bloqueio de R$ 7,4 bilhões do Orçamento de 2019 do MEC, que é de R$ 149 bilhões. Representam 30% dos recursos discricionários que é aproximadamente 2 bilhões. Atingem, principalmente, a rubrica de custeio (segurança, energias, limpeza, etc.) e a pesquisa (3,5 mil bolsas). Porém, os cortes ameaçam mais as áreas de exatas e biomédicas que depende de equipamentos para o desenvolvimento de suas atividades. Paradoxalmente, as áreas menos afetadas serão justamente aquelas acusadas de promoverem atos políticos de esquerda!

O ataque a universidade pública foi contido pela reação social. Porém, não existe espaço para ilusões, o ataque está apenas começando… Afinal, diante da falta de dinheiro a intimidação financeira à universidade vai aumentar. A substituição de critérios técnicos por viés ideológico assinala o uso orçamento para atacar quem pensa diferente. Para entender este processo é preciso considerar o ataque a universidade pública no padrão de atuação do Bolsonarismo: usar a universidade para manutenção da polarização política (gerar controvérsias passionais). Neste sentido, a linha de ataque à universidade pública segue quatro direções principais.

A primeira delas é opor áreas de ciências humanas as áreas de ciências exatas, biomédicas e naturais. É neste sentido que devem ser entendidos os ataques a sociologia e a filosofia. A sociologia e a filosofia foram utilizadas para ilustrar a questão da aplicação prática. Por um lado, na visão do MEC, existe um sobredimensionamento das questões identitárias nos cursos de ciências humanas das universidades públicas; por outro, um aparelhamento ideológico dos partidos de esquerda. Portanto, o propósito do ataque a sociologia e a filosofia é dividir internamente a universidade entre “áreas produtivas” que seriam uteis, e “áreas doutrinadoras” que seriam inúteis. 

A segunda linha tenta opor a universidade pública a universidade privada. Tenta jogar os alunos das universidades privadas contra os alunos das universidades públicas. Procura mostrar que o custo de formação nas universidades públicas é desproporcionalmente superior ao custo das universidades privados. Em outras palavras, indica que os estudantes das universidades públicas seriam privilegiados. Neste sentido, a precarização das condições de ensino, pesquisa e extensão das universidades públicas alinha-se com a queda de demanda nas universidades privadas. Ao denunciar os privilégios do ensino público visa fortalecer a indústria da diplomação superior privada.         

A terceira é a oposição entre educação superior e educação básica. A ideia é dizer que a faltam recursos na educação básica porque os recursos são destinados à educação superior. Ou seja, que o governo federal não consegue investir na educação básica de forma eficaz, porque os recursos do setor são drenados pela educação superior. Segundo o MEC, o estudante de graduação custaria R$ 30 mil por anos, enquanto um aluno de creche R$ 3 mil. No entanto, o dinheiro tirado da educação superior não será transferido para educação básica.

E a quarta diz respeito a divisão entre fanatismo e conhecimento. O foco aqui é desqualificar o conhecimento científico e, desta forma, reduzir a autonomia crítica. Entre os principais beneficiários da hostilidade a ciência destacam-se os grupos religiosos que são inimigos das teorias científicas e por isto se opõe a universidade. Estes grupos possuem uma forte influência no Governo Bolsonaro e, principalmente, no Ministério da Educação. Além disso, materializa o ressentimento de Olavo de Carvalho contra a universidade. Portanto, os cortes ecoam o discurso antiuniversidade que se exprime na oposição entre o dogmatismo e a lógica.

O impacto do corte não afeta somente as atividadesde ensino, pesquisa e extensão, mas,sobretudo, a autonomia universitária. Deve ser entendido no contexto mais amplo da integração da agenda conservadora nos costumes com a agenda liberal na economia:

a) Perseguição ideológica: a campanha antidoutrinação promovida pelo movimento Escola Sem Partido;

b) Estrangulamento financeiro: criação de uma Lava Jato da Educação visando o fim da gratuidade. É por isto que desde a chegada de Bolsonaro converteu a educação em espaço de disputa ideológica. Mais precisamente, visa neutralizar a capacidade de resistência das universidades.

Portanto, o ataque as “humanidades”, ao “público”, ao “superior” e a “ciência” visa jogar a população contra a universidade. Mais precisamente, mobilizar apoio popular ao seu mandato para pressionar as instituições. Mídia, STF, militares, universidade, Congresso… É muito barulho e pouco resultado! Ocorre, contudo, que ao reduzir os opositores a “idiotas uteis” e os protestos ao “movimento do pessoalzinho” Bolsonaro aumenta perigosamente a aposta. Acredita que os grupos insatisfeitos com o governo não se juntarão à estudantes e professores. Portanto, o Bolsonarismo pode transformar a marola da educação num tsunami de insatisfações.

Dr. M. Mattedi

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