‘O Dilema das Redes Sociais’ escancara aspecto manipulador

‘O Dilema das Redes Sociais’ escancara aspecto manipulador

Do vício em estar conectado à polarização política, documentário lançado na Netflix mostra como as grandes empresas de tecnologia conseguem prever e até influenciar nosso comportamento.

Como qualquer ferramenta, as redes sociais possuem um lado muito positivo: conectam as pessoas e abrem portas para conteúdos que podem ser interessantes para o usuário. Você, por exemplo, pode ter chegado até aqui porque se interessa por Tecnologia e Inovação, segue o Olhar Digital ou foi sugerido por alguma rede.

Mas existe um lado oculto, que tem a ver com manipulação em massa e a total falta de consideração com o bem-estar mental das pessoas. Uma ferramenta não para quem usa, mas para quem a controla – e negocia no mercado uma das “commodities” mais valiosas de todos os tempos: a atenção das pessoas.

Tristan Harris e Roger McNamee na saída de uma audiência no Congresso dos EUA. Imagem: Exposure Labs/Netflix

O documentário “O Dilema das Redes” (“The Social Dilemma”), que estreou na Netflix no último dia 9, entrevista especialistas em tecnologia do Vale do Silício para mostrar como as redes sociais estão reprogramando a civilização. Ex-funcionários de empresas como Google, Facebook, Twitter, Instagram e Pinterest contam como os executivos dessas companhias não só sabem disso como manipulam os algoritmos para induzir comportamentos nas pessoas.

Dirigido pelo cineasta Jeff Orlowski, o filme trata não só do aspecto viciante das redes, construídas para manter o usuário constantemente “engajado”, como explica o impacto disso nas novas gerações e porque é mais vantajoso para esse sistema nos manter separados de quem pensa diferente de nós. Ainda deu tempo de contextualizar a pandemia da Covid-19 no meio disso tudo. 

Algoritmos desenhados para fazer recomendações personalizadas, por outro lado, usam os dados coletados para prever e influenciar comportamentos – e é esse poder que essas empresas oferecem ao mercado, por isso dominam a publicidade de uma forma que nenhum outro veículo consegue sobreviver sem aderir a essas regras.

Um dos personagens principais do documentário é Tristan Harris, que trabalhou como especialista em Ética de Design no Google e agora é presidente e cofundador do Center for Humane Technology. Ele conta como percebeu esse potencial negativo das redes e tentou mudar o sistema por dentro, sem sucesso. 

“As pessoas acham que o Google é só uma ferramenta de busca, e que o Facebook é só onde vejo meus amigos. Mas elas não percebem que eles estão competindo pela sua atenção”, afirma Harris, lembrando a máxima: “se você não está pagando pelo produto, você é o produto” – é o chamado “capitalismo de vigilância”.

Para Jaron Lanier, considerado um dos “pais” da Realidade Virtual, o produto é “a gradativa, leve e imperceptível mudança em nosso comportamento e percepção”. Outro entrevistado, Roger McNamee, um dos primeiros investidores do Facebook, faz uma revelação que pode ser assustadora para quem não acompanha de perto o setor. Quando elementos externos influenciam em outros países, como, por exemplo a Rússia nas eleições dos Estados Unidos, eles não “hackeiam” o Facebook, apenas fazem uso das ferramentas da plataforma.

O documentário funciona muito bem tanto como linha do tempo do desenvolvimento das redes sociais como sinal de alerta para o seu mau uso. Alguns elementos da sociedade, como a atual polarização extremada, que certamente teve influência dos algoritmos do Vale do Silício, porém, acabam simplificadas pela narrativa. Mas dificilmente você não vai sair de “O Dilema das Redes” sem querer dar um tempo do seu smartphone.

Por: Olhar Digital

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