Queremos ser VACINADOS: Como a imprensa internacional cobriu os protestos por “impeachment” de Bolsonaro
Além de se espalharem por centenas de cidades em quase todos os estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal, os protestos pedindo o impeachment de Jair Bolsonaro e a ampliação da oferta de vacinas no Brasil ganharam destaque em alguns dos principais jornais e televisões do mundo inteiro neste fim de semana.
A cobertura da imprensa internacional sobre as marchas afirma que estes podem ter sido os maiores protestos no Brasil desde o início da pandemia e aponta o momento de fragilidade do presidente, que vê sua popularidade cair enquanto o país continua registrando média próxima a duas mil mortes por dia em decorrência da covid-19.
Além das manifestações, que chegaram a ser a notícia principal do jornal britânico The Guardian, a crise enfrentada pelo presidente com o avanço da CPI que apura ações e omissões do governo na pandemia também estampa o topo do site da revista The Economist, que aponta um “Bolsonaro encurralado”.
Conhecido por ser ativo em suas redes sociais, o presidente brasileiro não citou diretamente as manifestações, mas provocou oponentes ao publicar uma foto com as palavras “imorrível, imbroxável e incomível” (SIC).
Entre as principais pautas dos protestos estavam o impeachment de Bolsonaro, a aceleração da vacinação contra a covid-19 e o aumento do valor e do tempo de auxílio emergencial em meio à pandemia.
Os dados oficiais mais recentes sobre a doença, publicados no sábado (29), apontam que o país teve 1.971 mortes em 24 horas. A soma alça o total de óbitos desde o início da pandemia a mais de 461 mil.
‘Fora Bolsovírus’ foi um dos gritos mais comuns nas manifestações contra Bolsonaro.
‘Mais perigoso que o vírus’
O argumento de que Bolsonaro ofereceria mais perigo à população do que o próprio coronavírus apareceu em diferentes reportagens internacionais – caso do francês Le Monde e do britânico Guardian.
O tradicional jornal parisiense destacou que as marchas no Rio de Janeiro começaram em frente ao edifício conhecido como “Balança mas não cai’ – “o ponto de encontro não parece ter sido escolhido aleatoriamente”, diz o periódico.
O impresso britânico, por sua vez, destacou as razões pelas quais uma série de manifestantes foi às ruas.
O diário norte-americano New York Post também ouviu de uma manifestante que “o governo Bolsonaro é mais perigoso que o vírus”.
O tabloide destacou que o “líder de extrema-direita se recusou em impor toques de recolher e lockdowns generalizados no país de 211 milhões de habitantes”
Foice e cloroquina
Segundo a agência de notícias Reuters, reproduzida por dezenas de veículos em todo o planeta, a “popularidade de Bolsonaro despencou durante a crise do coronavírus”.
A agência, que também classifica o presidente brasileiro como “líder de extrema-direita”, diz que Bolsonaro “minimizou a seriedade da pandemia, descartou o uso de máscaras e lançou dúvidas sobre a importância das vacinas”.
Ainda segundo a Reuters, os protestos, “organizados por partidos políticos de esquerda, sindicatos e associações estudantis” foram pacíficos.
A BBC inglesa também citou o episódio na capital pernambucana. “A polícia disparou balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que tentavam marchar por uma estrada fechada, segundo a mídia local.”
Também em Recife, a vereadora Liana Cirne (PT) foi agredida com spray de pimenta por um policial.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), disse que o comandante e demais policiais envolvidos na agressão serão afastados de suas funções e investigados. A vice-governadora do Estado, Luciana Santos (PCdoB), disse que a polícia militar não tinha autorização para a ação.
Da Forbes a Al Jazeera
As marchas também repercutiram na Índia e na Rússia, parceiros do Brasil no bloco econômico Brics.
Com o título “Dezenas de milhares de pessoas marcham contra a resposta do presidente Bolsonaro à Covid no Brasil“, a agência estatal do Kremlin RT publicou uma série de vídeos sobre as marchas.
“Bonecos do presidente foram vistos nos protestos, e alguns teriam sido queimadas pelos manifestantes. Em São Paulo, um enorme boneco inflável do presidente o retratou como um vampiro”, apontou a agência.
A revista Forbes publicou uma galeria de imagens dos protestos e também destacou a presença de alegorias fazendo referência ao presidente. Em uma das imagens, um dos bonecos aparece em chamas.
O indiano Times of India, citando a agência AFP, apontou que manifestantes no Rio de Janeiro gritavam “Bolsonaro genocida” e “Vá embora, Bolsovírus”.
A rede Al Jazeera, do Catar, lembrou que os protestos acontecem enquanto o governo está sob escrutínio de uma investigação pelo Senado sobre sua atuação no combate à pandemia.
O jornal espanhol El Pais destacou que “pela primeira vez na pandemia”, a esquerda brasileira foi às ruas contra Bolsonaro. A gestão do líder brasileiro foi descrita pelo jornal como “nefasta”.
Também cobrindo as manifestações, o argentino La Nación apontou que os protestos contra o presidente vem ganhando força. “Em Belo Horizonte, um manifestante ia fantasiado de esqueleto com uma foice em uma mão e um frasco de cloroquina na outra.
AFP