Renda Brasil e Reeleição
Apesar do “rachid” que, patos e marrecos, pagamos.
A ultracomunista Folha de São Paulo divulgou dados do ultra- neoliberal Instituto Data Folha sobre o aumento da popularidade do presidente da República. Nenhuma hipótese racional deve ser desprezada, mas é estatisticamente irresistível creditar isso ao auxílio emergencial que se transformará no Renda Brasil. O governo agiu bem, o ministro da Economia foi o primeiro a consentir, mas isso alterou a rota da economia. Reeleger-se é a prioridade racional de qualquer governo e é assim que entendemos como os fins justificam os meios. A responsabilidade fiscal dá lugar à eleitoral e o patrimonialismo se mantém intacto à custa da próxima geração no velho Brasil de sempre.
Como informa o site do Data Folha, todos os segmentos de opinião demonstram que a reprovação ao presidente diminuiu e a queda ocorreu notavelmente no Nordeste, o que deixa o governo muito satisfeito e convicto da mudança de rota: menos liberalismo e mais Estado assistencialista. A queda na reprovação foi de 17 pontos na macrorregião majoritariamente lulista(de 52% para 35%). Também houve queda acentuada, de 13 pontos, entre os mais pobres (de 44% para 31%) e na parcela menos escolarizada (de 40% para 27%). Deve ter produzido no presidente aquela sensação de chegada, na descida dos 100 metros da Big Tower do Beto Carrero.
Há os analistas que creditam esse efeito ao fato de o presidente da República ter costurado a boca (não durou muito). Ter aquietado os olavistas que perderam seu principal porta-voz, o ex-ministro da Educação, talvez signifique algo no todo. Para além disso, há um componente que muitos não gostam de admitir. Isto é, conquanto seja moralmente imperdoável a insensibilidade presidencial com as famílias dos mortos, moral e política são campos relativamente distintos. Tanto o é que o único segmento no qual a reprovação aumentou foi entre os mais velhos – mais temerosos em relação a covid 19. Mas quem determina a popularidade não são eles, nem há altruísmo suficiente.
Ainda se admita, por absurdo que pareça, um fosso de verdade entre, de um lado, a displicência e a inépcia do presidente da República no trato da pandemia e, do outro, o excesso de zelo determinado por governos subnacionais e apoiado principalmente pelos que tem condições de se manter no isolamento. A população economicamente ativa se dividiu entre o zelo à vida (dos outros) e a preocupação com o próprio bolso. Ninguém pode ser culpado por isso, mas governantes tem responsabilidades. O presidente errou, mas governos subnacionais também e, nessa disputa entre o diabo e o coisa ruim, a ira vulgar do presidente gerou mais empatia com o vulgo do que do vulgo com os zelosos pela vida.
Ainda temos a tão reprovada aproximação com o “centrão”. Ou alguém acha que algum presidente se reelege sem que os distintos parlamentares aconselhem seus eleitores? Mas o que pega mesmo é o auxílio emergencial. Segundo o jornal ultra – burguês, O Estadão, com base em dados da agência estatal socialista IBGE, “Cerca de 104 milhões de pessoas, o equivalente a 49,5% da população do País, viviam em residências beneficiadas por programas de enfrentamento à pandemia”. Se compararmos com o número de beneficiados do Bolsa Família, a correlação torna-se irresistível a qualquer amigo da matemática.
Segundo a mesma e insignificante estatal IBGE, em 2018 cerca de 47 milhões de pessoas recebiam esse benefício, o que equivalia a 22% da população brasileira– a fonte indireta é a Pública – Agência de Jornalismo Investigativo “anarco – neocomunista”. De 47 milhões de brasileiros para 104 milhões, o aumento de beneficiados mais que dobra, ou seja, é de 122%. A renda das famílias mais pobres no Brasil é de R$ 178,00 por pessoa. Se imaginarmos uma família de quatro integrantes, o incremento é de 85%. Se isso não rende voto, então, porque o governo se arrisca a fechar o Posto Ipiranga?
De um amigo sociólogo que gosta de matemática (então é cientista político), recebo um valioso conjunto de dados que atestam essa correlação entre voto e auxílio emergencial. Aliás, o artigo de Marcos Mattedi, da semana anterior, desta Coluna “O Brasil Como Nos Parece Ser”, apresenta números nessa direção. Os dados revelam que 41% das pessoas com mais de 18 anos receberam o benefício do auxílio emergencial. Metade dos estados brasileiros teve mais da metade de adultos beneficiados. No estado que menos recebeu per capita, foram 28% de beneficiados.
Em alguns estados, o índice chega a 55%, enquanto o índice chega a 62% no estado mais beneficiado per capita. E não pense algum brasileiro que isso não tenha sido necessário, embora saibamos dos desvios aqui e ali. Entre os indevidamente beneficiados, aposto que tem gente nesse meio que votou contra corruptos ou fascistas na última eleição. Falando em apostar, vale um ingresso nos cinemas de Blumenau, Itajaí, Balneário Camboriú, Indaial, Brusque, Belchior Alto, Canoinhas, São Cri-cri, Mafra, Jaraguá do Sul, Chapecó e Concórdia para quem acertar o estado que menos recebeu. Errou quem disse o Distrito Federal.
Se compararmos com os dados do Data Folha, tudo fica claro como a luz do Sol. O auxílio emergencial revela algumas coisas importantes: primeiramente, nos lembra o quanto o Brasil é desigual. Segundo, tínhamos café no bule. Terceiro: reservas tem utilidade prática e social. Em quarto lugar, o Estado emergencial da pandemia ressuscita o Estado de bem-estar social, que deixou de ser exclusividade da esquerda. Em último lugar, seria irracional desprezar o capital eleitoral desse capital assistencial como um meio a garantir os fins últimos da política (a manutenção do poder) num país tão desigual.
Agora, se maquiavelicamente alguém relacionar o Renda Brasil com a debandada de um secretário do Tesouro, um presidente do BNDES, um secretário de desestatização e um de desburocratização, não se culpe a matemática. Mas, se correlacionar a recente cordialidade entre o presidente e o Centrão (não confundir com as ideias de centro) e algum projeto de reeleição com o fechamento do Posto Ipiranga, vale uma letra do Tesouro Nacional a ser resgatado daqui há 25 anos. É quando os que nascem agora não terão emprego e os que tiverem o triplo da idade terão ouvido que um dia a aposentadoria fora para todos, não apenas para os patrimonialistas dos três poderes e das forças armadas, à custa dos chineses que arrendaram o País e das contribuições de quem teve a sorte de empregar-se em alguma empresa deles.
Por: Dr.Walter Birkner – Sociólogo