Tânger Corrêa: “Trump vai obrigar a Europa a reencontrar-se”
Eurodeputado afirma que a influência chinesa no Atlântico Norte é “um perigo cada vez maior” para a Europa e os EUA

O eurodeputado António Tânger Corrêa (Chega) afirma que a entrada em funções de Donald Trump, na próxima segunda-feira, na Casa Branca, terá impactos “muito grandes” no campo geopolítico. Em entrevista à TSF, o embaixador, agora representante do Chega no Parlamento Europeu, analisa a influência no cenário global e europeu da futura administração norte-americana, considerando que a postura “assertiva” de Trump pode ser “positiva” em alguns aspetos.
“Trump é mais assertivo, não gosta de conflitos, como se viu no primeiro mandato em que ele tinha menos poder do que agora, e isso eu considero como um fator extremamente positivo. Ou seja, ser uma pessoa que é anticonflitual a nível internacional, eu acho que é fundamental para, de alguma forma, amainar os ânimos que neste momento estão bastante exaltados em vários pontos do globo”, afirmou Tânger Corrêa.
Outro ponto destacado por Corrêa foi o impacto da liderança de Trump na Europa. “De alguma forma, [Trump] vai obrigar a Europa a reencontrar-se”, afirmou o eurodeputado, referindo-se às necessidades de investimento e de relaxamento da competitividade europeia identificadas “no relatório Draghi”.
Questionado sobre os comentários de Donald Trump, a propósito das questões territoriais, como o controlo da Gronelândia, Canadá e do Canal do Panamá, Tânger Corrêa destacou que a ideia tem raízes históricas.
“A compra da Gronelândia pelos Estados Unidos é uma história muito antiga, já vem do século XIX. Não começou, obviamente, com Donald Trump. Se nós formos ver, as pessoas ficam muito chocadas com comprar território. Se formos ver, o Alasca foi comprado pelos americanos à Rússia, a Luisiana foi comprada pelos americanos à França, parte do Texas foi comprada aos mexicanos também pelos americanos”, afirmou.
O eurodeputado destacou ainda a situação da Gronelândia como “neocolonial” e mencionou que, num referendo, a população poderia optar por se unir aos Estados Unidos. “Se for fazer referendo amanhã, se eles querem continuar com esta dependência dinamarquesa ou se querem, de facto, juntar-se aos Estados Unidos, eu não tenho dúvidas de qual vai ser o resultado desse referendo. Evidentemente, juntar-se aos Estados Unidos.”
Relevância geoestratégica e influência chinesa
Tanger Corrêa abordou também a importância geoestratégica da Gronelândia, alertando para o aumento da navegabilidade no Ártico e para a crescente influência chinesa no Atlântico Norte. “Face à evolução do clima (…) o Ártico está cada vez mais navegável. E o que se vê é uma cada vez maior influência chinesa no Atlântico Norte. E isso em termos geoestratégicos é extremamente perigoso, quer para os Estados Unidos, quer para a Europa”, afirmou.
Do ponto de vista europeu, António Tânger Corrêa admitiu que o controlo da Gronelândia pelos EUA poderia ter benefícios, oferecendo “uma maior capacidade de controlo de todo o Atlântico Norte” e vantagens geopolíticas, económicas e sociais.
Desvalorizando a intenção relacionada com as declarações de Donald Trump, Tânger Corrêa afirma que se trata de “atirar o barro à parede”. “Não me parece que num futuro próximo que isso [a anexação] aconteça.”
“Quanto ao Canal do Panamá, nós temos aí um problema grave. Primeiro, a água do Canal do Panamá está a diminuir, a tonelagem dos navios está a diminuir também, o que é grave, quer para a Europa, para onde vai a maior parte do trânsito, quer para os Estados Unidos e América do Sul, e, por outro lado, administrado pelos chineses, o que também do ponto de vista de segurança representa, quanto a mim, um perigo cada vez maior”, afirmou.